amarelo.vermelho.verde.azul.
o pôr-do-sol
e a
lagoa
jazem
na
burocracia.
22.12.09
21.12.09
prisão de ventre
das barras do intestino
sem fiança
sem rota de fuga
aos berros do inquilino
os barros
entupidos
sem habeas corpus
ou outro artifício.
a força incapaz
não há iogurtes
mamão ou
fibras alimentares.
onde o alívio?
alcatraz nutritiva -
não há juiz
que autorize
pela lei
do
ventre-livre.
sem fiança
sem rota de fuga
aos berros do inquilino
os barros
entupidos
sem habeas corpus
ou outro artifício.
a força incapaz
não há iogurtes
mamão ou
fibras alimentares.
onde o alívio?
alcatraz nutritiva -
não há juiz
que autorize
pela lei
do
ventre-livre.
23.11.09
18.11.09
poema parasita 2
No setembro
tem chuvas.
Nas chuvas
brotam cigarras.
tem chuvas.
Nas chuvas
brotam cigarras.
por sua vez,
cigarros
, nas chuvas,
desbotam,
impotentes.
Cigarras
cigarilham
estridentes
dentro
dos meus
orifícios.
cigarilham
estridentes
dentro
dos meus
orifícios.
e, nos meus,
flutuantes,
cigarros aniquilam
dentifrícios.
ci ga rra | ci ga rra
e..s...f...u..m...a..ç..a...
Nome, som
incrustantes.
nome, som
deteriorantes.
* os versos em vermelho são da poeta Raquel Beatriz, do blog: Desacanhamento poético
poema parasita 1
costurados ao
céu
algodões
engravidam de escuro.
céu
algodões
engravidam de escuro.
rompe-se a bolsa:
chuva.
* os versos em vermelho são do poeta Muryel de Zoppa, do blog: Crônicas, Metáforas e Outros Mamíferos
10.11.09
vilaria
cidade nasce quando se pisa o pé no passeio público
conhece cidade quem sabe o cio do ócio a cia da lida
.
exemplo grande o arrepio de São Paulo que nos suprime do olho o horizonte
ou, antes, cria sua verticante como se sempre ímpeto
não repouso
de cá o espalhar esburacado de Uberlândia pelo cerrado - sublime olho'rizonte -
alguns despontamentos em prédios não tomam da gente nenhum azul
nenhum repouso esparramado nenhuma ausência de avistamentos
Goiandira que é mais um seu do que um céu - o cheiro da ferrovia da cotovia -
extrair da
p a r a l i s i a
o movimento do sol
o gosto do sal de sua terra branca, de sua gente parda
- pardo meu sangue vento - seus paralelepípedos hexagonais
como se abelhas os habitassem caladas, melando os sapatos
o saber do pequi seu sabor amarelo
os doidos as crianças os senhores as meninas os doces
... :
vejo agora dentro de mim
uma pequena rua negra de casas brancas de amigos velhos de sanduíches com alface de caminhões e vidraças
(se nem tudo foi bom
- quase)
estando em
pé 1000
estrelas em
redemoinho
aguardo a dissolução
- tudo passa -
fincado o carinho
conhece cidade quem sabe o cio do ócio a cia da lida
.
exemplo grande o arrepio de São Paulo que nos suprime do olho o horizonte
ou, antes, cria sua verticante como se sempre ímpeto
não repouso
de cá o espalhar esburacado de Uberlândia pelo cerrado - sublime olho'rizonte -
alguns despontamentos em prédios não tomam da gente nenhum azul
nenhum repouso esparramado nenhuma ausência de avistamentos
Goiandira que é mais um seu do que um céu - o cheiro da ferrovia da cotovia -
extrair da
p a r a l i s i a
o movimento do sol
o gosto do sal de sua terra branca, de sua gente parda
- pardo meu sangue vento - seus paralelepípedos hexagonais
como se abelhas os habitassem caladas, melando os sapatos
o saber do pequi seu sabor amarelo
os doidos as crianças os senhores as meninas os doces
... :
vejo agora dentro de mim
uma pequena rua negra de casas brancas de amigos velhos de sanduíches com alface de caminhões e vidraças
(se nem tudo foi bom
- quase)
estando em
pé 1000
estrelas em
redemoinho
aguardo a dissolução
- tudo passa -
fincado o carinho
30.10.09
agricultura
lavrar o papel
(ou qualquer outro solo poético peleparedepc)
enxada na mão
lavar a mão
da enxurrada de
letra
asopidnvpodiaspondakpsodkaspnurasernpaviopsfsdjpofjnsdpfdspfnsapdfsdonsaofpnspodfd
de cabo em punho
dar cabo ao poema
levá-lo do leito do
coma ao
do rio
verdade mesmo é
ar que respiro, conta d'água, soluço etc
no mais
empenho de poeta
é rede de baiano
(ou qualquer outro solo poético peleparedepc)
enxada na mão
lavar a mão
da enxurrada de
letra
asopidnvpodiaspondakpsodkaspnurasernpaviopsfsdjpofjnsdpfdspfnsapdfsdonsaofpnspodfd
de cabo em punho
dar cabo ao poema
levá-lo do leito do
coma ao
do rio
verdade mesmo é
ar que respiro, conta d'água, soluço etc
no mais
empenho de poeta
é rede de baiano
29.10.09
dentição
por mim, abocanhadura seria,
apenas dentes:
'a-boca-nhá-dura'
dentes - ou penas -
para o fim
do bocado:
ali, alimento entre,
em gula
embora língua
saliva o dente
salíngua boca
engole pura
sibila na garganta
entre vivas e ácidos
a comida
livre
dos ossos
plena
diamassos.
apenas dentes:
'a-boca-nhá-dura'
dentes - ou penas -
para o fim
do bocado:
ali, alimento entre,
em gula
embora língua
saliva o dente
salíngua boca
engole pura
sibila na garganta
entre vivas e ácidos
a comida
livre
dos ossos
plena
diamassos.
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: suicídio | s.m.
coragem de
ter cova
(rdia)
de si.
coragem de
ter cova
(rdia)
de si.
28.10.09
muerte luz
nasce o poema
da
cova
do
dicionário
(luz-vapores escapam da corrente elétrica no teclado)
poeta mesmo é aquele que
dá a vida pelo
verso o verso pela estrofe
o
poeta sopra na letra o
fôlego em seu
barro tipológico
morrer o poema anterior é preciso
ao nascer o próximo que, extensão,
é renovo.
areia nascediça é a palavra
o poeta, suicida,
nelafunda.
(para Muryel de Zoppa)
da
cova
do
dicionário
(luz-vapores escapam da corrente elétrica no teclado)
poeta mesmo é aquele que
dá a vida pelo
verso o verso pela estrofe
o
poeta sopra na letra o
fôlego em seu
barro tipológico
morrer o poema anterior é preciso
ao nascer o próximo que, extensão,
é renovo.
areia nascediça é a palavra
o poeta, suicida,
nelafunda.
(para Muryel de Zoppa)
27.10.09
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: calota polar | s.f. E adj.
2 hemisférios
do cérebro
do globo
em retração.
2 hemisférios
do cérebro
do globo
em retração.
20.10.09
tirocínio da letra
destampar o abismo que são as coisas:
nada mais coube ao poema.
da letra sem dimensão
fluir as coisas, pela mão:
ou do desvão próprio da cabeça
faze-lo vão, sem nobreza.
coube ao poema muito,
pouca coisa mesmo,
coube ao poema a crueza
da vida - não da cabeça -
coube o esbarrão.
esfregão de idéias gastas,
limpa o piso branco
- o poema -
sabendo que é chão
sabendo que apenas basta.
... poeira
nada mais coube ao poema.
da letra sem dimensão
fluir as coisas, pela mão:
ou do desvão próprio da cabeça
faze-lo vão, sem nobreza.
coube ao poema muito,
pouca coisa mesmo,
coube ao poema a crueza
da vida - não da cabeça -
coube o esbarrão.
esfregão de idéias gastas,
limpa o piso branco
- o poema -
sabendo que é chão
sabendo que apenas basta.
... poeira
15.10.09
conjugação do desejo
esta está bem;
aquela (?) quisera eu.
não mais que querido
o pretendido teu...
pretérito apenas.
____________
querendo só,
nada existe
o querer inútil
face ao todo.
querendo todos:
nunca.
e nós?
diluição de desejos
, entre os passos,
devaneios.
aquela (?) quisera eu.
não mais que querido
o pretendido teu...
pretérito apenas.
____________
querendo só,
nada existe
o querer inútil
face ao todo.
querendo todos:
nunca.
e nós?
diluição de desejos
, entre os passos,
devaneios.
13.10.09
evolução
pontas dos dedos achatadas
ruidoso pianista
sinuoso tombar das costas
ourives impertinente
retina exarcebada
atento marujo em mar aberto
braços estendidos em
proximidade
gatuno algemado
o fluir ininterrupto da corrente elétrica
da cabeça pelos nervos pelos músculos pelo ar pelas teclas pela tela pela rede pela
em posição de pescaria
o corpo em suspensão.
ecce homo calculus!
ruidoso pianista
sinuoso tombar das costas
ourives impertinente
retina exarcebada
atento marujo em mar aberto
braços estendidos em
proximidade
gatuno algemado
o fluir ininterrupto da corrente elétrica
da cabeça pelos nervos pelos músculos pelo ar pelas teclas pela tela pela rede pela
em posição de pescaria
o corpo em suspensão.
ecce homo calculus!
7.10.09
mudança de planos
(...
hoje não há mais postagem
para ser postada.
enviarei um cartão-postal
para você.
com carinho e poeira,
aguardo sua resposta
...)
hoje não há mais postagem
para ser postada.
enviarei um cartão-postal
para você.
com carinho e poeira,
aguardo sua resposta
...)
6.10.09
elucidação
pular a : cerca
riscar o - risco
buscar o . ponto
puxar a , linha
rolar as ... pedras
a pontuação é um
alfabeto-dicionário comprimido, urânio enriquecido.
riscar o - risco
buscar o . ponto
puxar a , linha
rolar as ... pedras
a pontuação é um
alfabeto-dicionário comprimido, urânio enriquecido.
o dia de hoje
o dia de hoje
só existe
no instante
em que (nele)
se pensa.
(do tempo não se diz meu, mas sombra)
como se
o instante fosse
o dia todo
enquanto (nele)
se pensa.
só existe
o que se pensa
no instante ()
e disso se diz: - hoje.
(assopra)
a pegada d'ontem
(assombra)
a luz apagada d'amanhã.
só existe
no instante
em que (nele)
se pensa.
(do tempo não se diz meu, mas sombra)
como se
o instante fosse
o dia todo
enquanto (nele)
se pensa.
só existe
o que se pensa
no instante ()
e disso se diz: - hoje.
(assopra)
a pegada d'ontem
(assombra)
a luz apagada d'amanhã.
5.10.09
soa
a hora do almoço
é um momento íntimo:
vem de dentro
o badalar da fome:
blém, blém, blém:
a fila de fiéis se alinha
ante a sagrada glote.
é um momento íntimo:
vem de dentro
o badalar da fome:
blém, blém, blém:
a fila de fiéis se alinha
ante a sagrada glote.
2.10.09
30.9.09
do espirro
espirrar demais atenua
o formigar da ponta do nariz
que decorre do
espirrar.
(demais tênue é a prática perfeita do espirro)
o bom espirrar é de uma vez.
aqueles 3 segundos gastos pra carregar a carga do espirro,
são acúmulo de nervos nas narinas.
(como se naturalmente o nariz soubesse do prazer nascido da angústia da espera)
a tosse, por sua vez, é sempre tentativa de suicídio pulmonar. não convém tossir neste poema.
o espirro é, antes, limpeza aérea.
disso vem a sensação de leveza de espirro
e só uma grande sabedoria percebe que,
sim,
há perigo de su'alma pular fora pelo nariz durante.
do espirro se retém o rubor da face, o lacrimejar dos olhos
e a esperança do próximo
assim que a pressão nos ouvidos diminua,
os pêlos deitem novamente pela pele.
o bom é espirrar uma vez de cada.
espirrar demais é rebeldia.
o formigar da ponta do nariz
que decorre do
espirrar.
(demais tênue é a prática perfeita do espirro)
o bom espirrar é de uma vez.
aqueles 3 segundos gastos pra carregar a carga do espirro,
são acúmulo de nervos nas narinas.
(como se naturalmente o nariz soubesse do prazer nascido da angústia da espera)
a tosse, por sua vez, é sempre tentativa de suicídio pulmonar. não convém tossir neste poema.
o espirro é, antes, limpeza aérea.
disso vem a sensação de leveza de espirro
e só uma grande sabedoria percebe que,
sim,
há perigo de su'alma pular fora pelo nariz durante.
do espirro se retém o rubor da face, o lacrimejar dos olhos
e a esperança do próximo
assim que a pressão nos ouvidos diminua,
os pêlos deitem novamente pela pele.
o bom é espirrar uma vez de cada.
espirrar demais é rebeldia.
21.9.09
15.9.09
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: junta s.f.
a junta existe apenas na mente - sinapse do azulejo.
a junta existe apenas na mente - sinapse do azulejo.
11.9.09
erro de continuidade
de ontem pra hoje
me faltam cabelos
_________pessoas
_________lugares
de ontem pra hoje.
de ontem pra hoje
_________o tempo
(é ele o senhor da perda).
de ontem não veio
muita coisa:
aquele pássaro, aquela pipa,
viraram nuvem -
erro de continuidade.
me faltam cabelos
_________pessoas
_________lugares
de ontem pra hoje.
de ontem pra hoje
_________o tempo
(é ele o senhor da perda).
de ontem não veio
muita coisa:
aquele pássaro, aquela pipa,
viraram nuvem -
erro de continuidade.
10.9.09
9.9.09
09 09 09
atenção:
não perca a contagem
desse dia
como qualquer
outro
dia.
uma data única...
como qualquer
data única.
detenha-se diante desse dia
como um qualquer
detido diante
como um dedo estendido -
os outros na mão recolhidos
9.
não perca a contagem
desse dia
como qualquer
outro
dia.
uma data única...
como qualquer
data única.
detenha-se diante desse dia
como um qualquer
detido diante
como um dedo estendido -
os outros na mão recolhidos
9.
24.8.09
encurtação
há poesia.
palavras: desnecessarias.
mas como elidi-las ante
o peso da linguagem?
como suprimi-las
quando assentam-se
dominantes
senhores de engenho diante
de vasto latinfúndio?
0.
palavras são como montes, suas sombras alcaçam
todas as paragens e o sol brilha inútil.
1.
desverbarizar as coisas
antes de tornarem
antes da codificação -
alcança-las rápido, ainda em etimologia -
esta dança embrião capturada
dá nascimento à poesia:
palavras são códigos para essências
e poemas, palavras voltadas a essências.
2.
odores irrompem da leitura de um poema -
há movimentação de essências no papel.
3.
falar de diminuições é preciso.
o mínimo existencial,
sem corporeidade ou ocupação,
eterno prenhe, apresenta
espessa densidade:
lugar poético pleno.
decadência ao ponto, vertiginosa queda.
escrevê-lo é decantação.
4.
palavras - imagens empobrecidas? -
operam por artifícios vítreos
abstraídas do peso do olhar.
5.
saber o poema mesmo diante
de sua incontinência inerente.
sabê-lo jorro
(induzir intumescências em seu cerne
produzi-lo faca cujo corte costure
em ausência de fenda -
nasce a linha do movimento de sutura).
lê-lo com a boca:
poema se dá na língua,
antes do olhar.
sabê-lo mesmo diante
de sua incontinente inerência.
6.
poema é
esculpir sem matéria
antes uma dedicação
do que um desempenho.
nasce o poema quando
uma intenção de agir
se perde em sonho ou
concretudes em fumaça.
poema é poesia com
corpo de palavras.
7.
captação - um banco de antenas
(ou uma formiga escala um poste ou simplesmente
um jovem e suas palavras-cruzadas)
um sopro as desalinha,
um gracejo linguístico:
1. idéias se coagulam
2. cai o maná semântico
3. poetas se alimentam
4. impurezas ficam pelo estômago, pelo intestino,
5. sai pelo reto o poema e
6. reto e límpido cai na folha branca.
8.
o poeta é antes uma prensa do que um poeta.
9.
há palavras. não há o poema.
poema mesmo é uma resistência
ao fluir manso da linguagem,
um acidente premeditado.
é redução contínua,
ato irresponsável.
10.
arremessar lufadas de ar contra
a inexorável chama do idioma:
a chama da convenção consome a língua (movimento suicida)
o poema sopra na vela seu teor de parafina. a chama se sustém.
11.
!:
da prensa de vento do poeta
escorre (agora) a palavra
amanhã.
palavras: desnecessarias.
mas como elidi-las ante
o peso da linguagem?
como suprimi-las
quando assentam-se
dominantes
senhores de engenho diante
de vasto latinfúndio?
0.
palavras são como montes, suas sombras alcaçam
todas as paragens e o sol brilha inútil.
1.
desverbarizar as coisas
antes de tornarem
antes da codificação -
alcança-las rápido, ainda em etimologia -
esta dança embrião capturada
dá nascimento à poesia:
palavras são códigos para essências
e poemas, palavras voltadas a essências.
2.
odores irrompem da leitura de um poema -
há movimentação de essências no papel.
3.
falar de diminuições é preciso.
o mínimo existencial,
sem corporeidade ou ocupação,
eterno prenhe, apresenta
espessa densidade:
lugar poético pleno.
decadência ao ponto, vertiginosa queda.
escrevê-lo é decantação.
4.
palavras - imagens empobrecidas? -
operam por artifícios vítreos
abstraídas do peso do olhar.
5.
saber o poema mesmo diante
de sua incontinência inerente.
sabê-lo jorro
(induzir intumescências em seu cerne
produzi-lo faca cujo corte costure
em ausência de fenda -
nasce a linha do movimento de sutura).
lê-lo com a boca:
poema se dá na língua,
antes do olhar.
sabê-lo mesmo diante
de sua incontinente inerência.
6.
poema é
esculpir sem matéria
antes uma dedicação
do que um desempenho.
nasce o poema quando
uma intenção de agir
se perde em sonho ou
concretudes em fumaça.
poema é poesia com
corpo de palavras.
7.
captação - um banco de antenas
(ou uma formiga escala um poste ou simplesmente
um jovem e suas palavras-cruzadas)
um sopro as desalinha,
um gracejo linguístico:
1. idéias se coagulam
2. cai o maná semântico
3. poetas se alimentam
4. impurezas ficam pelo estômago, pelo intestino,
5. sai pelo reto o poema e
6. reto e límpido cai na folha branca.
8.
o poeta é antes uma prensa do que um poeta.
9.
há palavras. não há o poema.
poema mesmo é uma resistência
ao fluir manso da linguagem,
um acidente premeditado.
é redução contínua,
ato irresponsável.
10.
arremessar lufadas de ar contra
a inexorável chama do idioma:
a chama da convenção consome a língua (movimento suicida)
o poema sopra na vela seu teor de parafina. a chama se sustém.
11.
!:
da prensa de vento do poeta
escorre (agora) a palavra
amanhã.
17.8.09
do ponto ao traço
galinhas d'angola carregam pontos,
zebras, listras.
na campina - uma zebra em disparada
deixa angolas rolando pelo
caminho.
no caminho - galinhas d'angola saltitando
criam, na campina,
zebras voadoras.
(para Itamar Rios)
zebras, listras.
na campina - uma zebra em disparada
deixa angolas rolando pelo
caminho.
no caminho - galinhas d'angola saltitando
criam, na campina,
zebras voadoras.
(para Itamar Rios)
7.8.09
escambo
saia troca calça troca tela troca
brinco troca bota troca bolsa troca
troca bala troca pelo troca muda...
troca a peça à vista troca pele troca
revista.
troca pela troca pelo velho pela troca
nova troca velha troca pelo trôco.
troca.
a novidade pela troca vem do velho:
renovo. reuso. retorno.
revista troca livro troca colcha troca o mesmo troca
pouco?
troça?
troco.
(pipa/skate/bicicleta/balanço
pulo/roda/voa:
na dança dos objetos, o vento - onipresente).
(para Ariel Lazzarin)
brinco troca bota troca bolsa troca
troca bala troca pelo troca muda...
troca a peça à vista troca pele troca
revista.
troca pela troca pelo velho pela troca
nova troca velha troca pelo trôco.
troca.
a novidade pela troca vem do velho:
renovo. reuso. retorno.
revista troca livro troca colcha troca o mesmo troca
pouco?
troça?
troco.
(pipa/skate/bicicleta/balanço
pulo/roda/voa:
na dança dos objetos, o vento - onipresente).
(para Ariel Lazzarin)
15.7.09
hifenização
estes olhos furta-cor
engolem arco-íris:
não querem saber de ano-luz, cheiro-verde, feijão preto, amizade-colorida, manga-rosa...
zaz-traz! (um relâmpago passa, curto-circuito natural)
este arranha-céu
e sua silhoueta desenhada
em claro-escuro.
esta tarde rubro-negra
arrota hífens e afins.
10.7.09
8.7.09
fontes
finca-se a pá
no solo desta tela
chegam-se às fontes:
arial
times new roman
courier
lucida's writing
verdana
georgia
e outras tantas
opções para o lirismo destes tempos.
no solo desta tela
chegam-se às fontes:
arial
times new roman
courier
lucida's writing
verdana
georgia
e outras tantas
opções para o lirismo destes tempos.
7.7.09
navegação
minhas costas recebem
ondas ininterruptas
navios, torpedos,
conchas rombudas.
em minhas costas
inexistem porto seguro
ou espera da amada
apenas a obscura recepção
de rochedos escarpados.
este meu litoral curvilíneo,
habitado de ouriços marinhos,
resiste manco, solitário,
às vagas, às velas, aos ventos.
minhas costas
antevêem em sua linha sinuosa -
cedendo, erodida -
um lento transformar-se
em dolorida baia.
ondas ininterruptas
navios, torpedos,
conchas rombudas.
em minhas costas
inexistem porto seguro
ou espera da amada
apenas a obscura recepção
de rochedos escarpados.
este meu litoral curvilíneo,
habitado de ouriços marinhos,
resiste manco, solitário,
às vagas, às velas, aos ventos.
minhas costas
antevêem em sua linha sinuosa -
cedendo, erodida -
um lento transformar-se
em dolorida baia.
6.7.09
estratégia de leitura
andar todo o verso
começo ao fim.
lê-lo sem remorso
o verso direto
como seu braço
direito.
lê-lo ainda um,
o verso reverso:
o poema nunca
se estabiliza.
lê-lo até sua redução,
crua, letra a letra,
cru - o poema estendido
na mesa de dissecação.
começo ao fim.
lê-lo sem remorso
o verso direto
como seu braço
direito.
lê-lo ainda um,
o verso reverso:
o poema nunca
se estabiliza.
lê-lo até sua redução,
crua, letra a letra,
cru - o poema estendido
na mesa de dissecação.
3.7.09
resto
este esqueleto mal nascido como
se um faquir insaciável
o habitasse como
se uma revoada de pica-paus
o habitasse como
se uma matilha raivosa
o habitasse como
se não houvesse como habitar
este corpo neste esqueleto
como se não pudesse suportar
uma casa o solo, uma prece o santo,
como se não houvesse habitar
como se só o de doer, o de moer, como
este esqueleto nascesse
pura carne, pura pele,
como.
...
de resto
o desejo da eterna flutação
como bóia, como ave,
como fluidez imanente.
se um faquir insaciável
o habitasse como
se uma revoada de pica-paus
o habitasse como
se uma matilha raivosa
o habitasse como
se não houvesse como habitar
este corpo neste esqueleto
como se não pudesse suportar
uma casa o solo, uma prece o santo,
como se não houvesse habitar
como se só o de doer, o de moer, como
este esqueleto nascesse
pura carne, pura pele,
como.
...
de resto
o desejo da eterna flutação
como bóia, como ave,
como fluidez imanente.
2.7.09
margear
poema com palavrão
nunca foi fácil
sempre tem aquela facilidade
do espanto do choque
que espanta o poema.
quero mesmo é poema
sobre qualquer coisa nula
que não choca nem espanta
senão pelo próprio espanto
do pejo do poema.
nunca foi fácil
sempre tem aquela facilidade
do espanto do choque
que espanta o poema.
quero mesmo é poema
sobre qualquer coisa nula
que não choca nem espanta
senão pelo próprio espanto
do pejo do poema.
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: s.m. cor
1. cor é a ventilação
do ar
assoprada no olho.
2. cor é a pimenta
no olho
um refresco de ar.
1. cor é a ventilação
do ar
assoprada no olho.
2. cor é a pimenta
no olho
um refresco de ar.
contradito
o tapa na cara
destapa a vergonha
da cara.
o monte de terra
esconde o desmonte
do corpo.
a pele na carne
repele a vista
do osso.
o dito fica solto
inaudito fica
o preso.
destapa a vergonha
da cara.
o monte de terra
esconde o desmonte
do corpo.
a pele na carne
repele a vista
do osso.
o dito fica solto
inaudito fica
o preso.
30.6.09
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: OVNI - objeto voador não identificado
o ovo
o vôo
o óov
o ovo
o vôo
o óov
24.6.09
ensaio da poesia
- diga:
- de tudo ao meu amor serei atento...
- não, não, muito bossa.
(...)
- e assim: minha desgraça, ó cândida donzela...
-não!!
- o quê?
- muito fossa.
ensaio da rima
repitam juntos, 1 do lá si e ... :
- coração
- macacão
muito bem! agora outra vez, com entusiasmo:
- coração!
- macacão!
poema coletivo
escrever o poema coletivo
cada amigo pincelando uma palavra
uma metáfora, uma rima
escrever o poema incontido
cada amigo explorando um verso
um recôndito, um abrigo
escrever o poema polissêmico
cada amigo costurando um signo
um símbolo, um perigo
escrever o poema sem as mãos
cada amigo assoprando uma letra...
um poema-vendaval
me ergue do chão.
(para Manoel de Barros)
me ergue do chão.
(para Manoel de Barros)
aposta
a postagem veio assim
como poema como
cinco letras duas palavras
e meio quilo de desejos...
de resto um líquido grosso
verde-musgo
escorrendo
escorrendo
pelo monitor.
daqui o teclado, duas mãos,
e a vontade de transcender
o LCD.
12.6.09
blog
o quadrado branco que substitui a folha branca
aqui neste blog
é sempre límpido, não amassa,
a borracha impecável,
a letra impecável,
o branco impecável.
tanta pureza assim
só resta a canonização
do novo workspace do poeta!
aqui neste blog
é sempre límpido, não amassa,
a borracha impecável,
a letra impecável,
o branco impecável.
tanta pureza assim
só resta a canonização
do novo workspace do poeta!
8.6.09
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: s.m. concentração
olhar obsessivamente
o centro
o olhar centrado
a concêntrica ação
o ato foco certeiro
olhar o ser de algo
ser único olho
fixo no centro
sem titubeação.
obstinação.
olhar obsessivamente
o centro
o olhar centrado
a concêntrica ação
o ato foco certeiro
olhar o ser de algo
ser único olho
fixo no centro
sem titubeação.
obstinação.
4.6.09
estalo
sabe aquela sensação que alguma coisa estalou?
sabe aquela sensação que alguma coisa fez clic?
sabe quando você morde e talvez uma pedra no feijão?
talvez um pequeno osso na galinhada, um pedaço de dente que se soltou?
sabe aquele insight de quando escrevendo qualquer coisa que não sai?
assim, aquele estampido surdo no ouvido interno, talvez um inseto contra o pára-brisas?
talvez uma trinca que nasce no concreto... ou na espelho?
sabe aquela impressão de que se falou demais, de que olhou demais?
talvez, sabe, só talvez, foi um centímetro a mais no corpo em crescimento, na barriga em crescimento...
talvez, bem talvez, uma letra, uma cor, uma peça de roupa, uma gota a mais;
talvez ainda uma cena a mais na película...
sabe isso?
é quando se percebe que o indizível opera em mínimos movimentos
silenciosas danças sísmicas, soma de ajustes interiores da alma.
a maturidade se forma por gotejamento incessante
gota a gota.
às vezes uma bolha no gargalho interrompe o fluxo...
o tempo se suspende
eternamente. então
a bolha se rompe
e uma onda deságua
rápida, surda, avassaladora:
um estalo, sabe?
sabe aquela sensação que alguma coisa fez clic?
sabe quando você morde e talvez uma pedra no feijão?
talvez um pequeno osso na galinhada, um pedaço de dente que se soltou?
sabe aquele insight de quando escrevendo qualquer coisa que não sai?
assim, aquele estampido surdo no ouvido interno, talvez um inseto contra o pára-brisas?
talvez uma trinca que nasce no concreto... ou na espelho?
sabe aquela impressão de que se falou demais, de que olhou demais?
talvez, sabe, só talvez, foi um centímetro a mais no corpo em crescimento, na barriga em crescimento...
talvez, bem talvez, uma letra, uma cor, uma peça de roupa, uma gota a mais;
talvez ainda uma cena a mais na película...
sabe isso?
é quando se percebe que o indizível opera em mínimos movimentos
silenciosas danças sísmicas, soma de ajustes interiores da alma.
a maturidade se forma por gotejamento incessante
gota a gota.
às vezes uma bolha no gargalho interrompe o fluxo...
o tempo se suspende
eternamente. então
a bolha se rompe
e uma onda deságua
rápida, surda, avassaladora:
um estalo, sabe?
cuidado!
[tomada alta tensão]
(choque)
toma da alta,
tá?
to.
toda alma, dama:
tenta são.
alto mato ten
alto mato são
altoma são
ma-al são
maten al
toda mala ten
toma da
alta ten
são toma
(o choque é fundamental à poesia)
(choque)
toma da alta,
tá?
to.
toda alma, dama:
tenta são.
alto mato ten
alto mato são
altoma são
ma-al são
maten al
toda mala ten
toma da
alta ten
são toma
(o choque é fundamental à poesia)
família
1.
a casa cheia
uma ceia de risadas
se entrelaça cesto
onde se estoca
a família.
2.
a casa ceia
uma cheia de risadas
do seio da família
entre laços.
3.
os laços cheios
uma casa de família
onde risadas preenchem
os vazios os ocasos
da memória e da alegria.
a casa cheia
uma ceia de risadas
se entrelaça cesto
onde se estoca
a família.
2.
a casa ceia
uma cheia de risadas
do seio da família
entre laços.
3.
os laços cheios
uma casa de família
onde risadas preenchem
os vazios os ocasos
da memória e da alegria.
3.6.09
arqueologia
buscar a letra perdida entre os alfabetos aquela gasta pelo tempo de tanto ser usada desde sempre essência das coisas visíveis falada feita pedra pois reeditada em inúmeras línguas feita pó pelo peso dos mil sentidos lhe atribuídos letra decantada purificada pelo fogo dos séculos dos erros dos desvios transmudada em substância líquida quando finalmente encontra seu repouso movimento perpétuo pêndulo inexorável: o onipresente éter linguístico cujas cristalizações determinam o ser das palavras.
cova
enterrado na
terra
entre a terra
e a rocha
o oculto.
uma pá
outra pá
outra e outra
o oculto revela-se:
desenterrado
o oculto respira
sobrepostos
o céu o vazio a rocha
jazem na superfície
o monte e o oculto
patentes.
terra
entre a terra
e a rocha
o oculto.
uma pá
outra pá
outra e outra
o oculto revela-se:
desenterrado
o oculto respira
sobrepostos
o céu o vazio a rocha
jazem na superfície
o monte e o oculto
patentes.
2.6.09
ósseas e flores
1
2
3
4
a quinta vértebra dói.
sua brancura não é paz,
paradoxalmente:
a dor, que é vermelha,
é alva e dura no osso.
estas orquídeas petrificadas imaculadas (as vértebras)
confundem meu cromatismo.
a dor, vermelha, dói branca em minhas costas;
- orquídeas ingratas,
meu bouquet estrutural abalado.
2
3
4
a quinta vértebra dói.
sua brancura não é paz,
paradoxalmente:
a dor, que é vermelha,
é alva e dura no osso.
estas orquídeas petrificadas imaculadas (as vértebras)
confundem meu cromatismo.
a dor, vermelha, dói branca em minhas costas;
- orquídeas ingratas,
meu bouquet estrutural abalado.
flores
rosas para minhas vértebras...flores?
não sei, mas
saberão elas reconhecer
o vermelho entre minhas dores?
não sei, mas
saberão elas reconhecer
o vermelho entre minhas dores?
29.5.09
27.5.09
união
o outro é uma outra coisa
o eu também.
o outro e o eu, juntos,
são duas coisas absurdamente duas
ou três:
o eu também.
o outro e o eu, juntos,
são duas coisas absurdamente duas
ou três:
26.5.09
engarrafamento
um engarrafamento é um amontoado de automóveis parados pois querem todos se movimentar de casa para o trabalho do trabalho para casa. problema de relógio.
um engarrafamento também é o cortejo fúnebre do expediente: o fim do ficar em casa ou do trabalhar. a tarde sempre morre através dos escapamentos. a noite nada é além da união das partículas poluentes expelidas dos autos que às vezes cobrem tudo... às vezes sobram estrelas, outras lua - ou parte dela. a lua quando sobra pouco é mais uma unha cortada do que lua, propriamente lua. o dia demora exatamente uma noite para limpar do céu o negrume. o véu noturno na verdade é parte de um ciclo maior, que começa com 1.o acúmulo de restos orgânicos em fundos de lagos que 2. com o tempo se transmudam em óleo de pedra e então 3. é removido por brocas longas para 4. servir de isqueiros, gasolina, computadores, canetas, casas, foguetes, bonecas etc 5. então volta para o chão ou para o céu.
um engarrafamento não tem relação alguma com garrafas. às vezes elas podem causar grandes engarrafamentos, que chamamos engavetamentos - que não tem relação alguma com guardar coisas, meias, cartas, facas, segredos etc
um engarrafamento é um carro outro outro outro outro outro outro outro outro sinal outro outro
as motocicletas são fluidas mas não engarrafáveis, paradoxo do tráfego.
um engarrafamento também é o cortejo fúnebre do expediente: o fim do ficar em casa ou do trabalhar. a tarde sempre morre através dos escapamentos. a noite nada é além da união das partículas poluentes expelidas dos autos que às vezes cobrem tudo... às vezes sobram estrelas, outras lua - ou parte dela. a lua quando sobra pouco é mais uma unha cortada do que lua, propriamente lua. o dia demora exatamente uma noite para limpar do céu o negrume. o véu noturno na verdade é parte de um ciclo maior, que começa com 1.o acúmulo de restos orgânicos em fundos de lagos que 2. com o tempo se transmudam em óleo de pedra e então 3. é removido por brocas longas para 4. servir de isqueiros, gasolina, computadores, canetas, casas, foguetes, bonecas etc 5. então volta para o chão ou para o céu.
um engarrafamento não tem relação alguma com garrafas. às vezes elas podem causar grandes engarrafamentos, que chamamos engavetamentos - que não tem relação alguma com guardar coisas, meias, cartas, facas, segredos etc
um engarrafamento é um carro outro outro outro outro outro outro outro outro sinal outro outro
as motocicletas são fluidas mas não engarrafáveis, paradoxo do tráfego.
25.5.09
diálogos 2
- Algumas palavras deveriam admitir certas mutações morfológicas!
- Hm...
- A língua deveria padecer de mais freqüentes arroubos semânticos, de maiores, mais ousadas, aventuras, escaladas, flaneries poéticas.
- Sei...
- A norma culta, ainda de gravata e paletó, promontório real, deveria incorporar vernáculos e certos poetas trangressores, marginais etc
- É...
- E tu, nada diz?
- Lindura isso môço. Cê viu que a noite caiu?
- ?
- Hm...
- A língua deveria padecer de mais freqüentes arroubos semânticos, de maiores, mais ousadas, aventuras, escaladas, flaneries poéticas.
- Sei...
- A norma culta, ainda de gravata e paletó, promontório real, deveria incorporar vernáculos e certos poetas trangressores, marginais etc
- É...
- E tu, nada diz?
- Lindura isso môço. Cê viu que a noite caiu?
- ?
quem?
queria te saber até o fundo do que cabe aí dentro tudo é uma confusão de saberes até a borda de você não sei nem a metade me transbordam a cabeça dúvidas quem quem quem...??
ensaio cromático
a dor de dente
é branca
a dor de dente
um alfinete chato
é branca
a dor de dente
um alfinete chato
preso a uma mola
que é branca
a dor de dente
alfinete, mola,
é branca
e não há paz.
é branca
a dor de dente
um alfinete chato
é branca
a dor de dente
um alfinete chato
preso a uma mola
que é branca
a dor de dente
alfinete, mola,
é branca
e não há paz.
22.5.09
psicodelia gripal
um rouxinol branco
dois jasmim-manga
três loucados tossindo
e rindo
tossindo e rindo
o primeiro pousou no segundo
e os terceiros rindo
loucura é passar embaixo e não notar
dois jasmim-manga
três loucados tossindo
e rindo
tossindo e rindo
o primeiro pousou no segundo
e os terceiros rindo
loucura é passar embaixo e não notar
p
o pê, de perto, tem uma cara de pé:
essa curvatura própria
parecida mesma
um pedecinho sobra
talvez parte da perna.
aponta a ponta do pé no pê
seu pulo para fora da linha reta
paralisado em formação de letra
(mas que poderia ser só um pé)
ou poderia ser só um 'í' e um 'ó', pregados.
mas não é do pê isso de porquês ou talvezes
nunca desapego,
a língua do pê é sempre pronto.
prego e ponto
do pê é também porém:
o pê tem dessas coisas...
essa curvatura própria
parecida mesma
um pedecinho sobra
talvez parte da perna.
aponta a ponta do pé no pê
seu pulo para fora da linha reta
paralisado em formação de letra
(mas que poderia ser só um pé)
ou poderia ser só um 'í' e um 'ó', pregados.
mas não é do pê isso de porquês ou talvezes
nunca desapego,
a língua do pê é sempre pronto.
prego e ponto
do pê é também porém:
o pê tem dessas coisas...
20.5.09
reunião
1.
montar um retrato sonhado do poeta que gostaria de ser.
tecer minha própria colcha de retalhos como uma biografia de aquecer no inverno
naquelas noites vazias, frias, quando até o desespero toma café.
um mosaico estranho, uma planície de promontórios definidos, os poetas que admiro.
não o ponto firme da mão experimentada na lida têxtil, mas o rápido alinhavo de certas penas
encharcadas em tinta, embebidas nos poetas que tenho, bibelôs fantásticos,
uma colcha frouxa onde cada trapo - sempre único - tenha espaço para suas inspirações e expirações:
de vocábulos, coloquialismos, lirismos, pedras rombudas, verbetes laminosos, frases, espasmos,
etc etc etc etc
desenhar como premeditar uma coleção contraditória de olhares, união de inconciliantes
buscar, entre os grãos, aqueles que, ao roçar do pé, produzem não cócegas
mas reviravoltas no estômago, desilusões na pele e um certo desamparo
(daqueles de quem perdeu a esperança... ou o telefone celular).
2.
joão cabral:
mineralizar cada gota de lirismo, sem culpa ou ressentimento.
manoel de barros:
do eu petrificado brotar gerânios ou gavetas, nascedouro infinito de futilidades necessárias.
leminski:
reduzir cada verso na prensa da ironia, voltar os frutos às sementes.
rilke:
escravizar a vontade de agradar, morrer de fome lingüística dentro do dicionário.
drummond:
lentamente caminhar sobre o dia, sujo de pó e de saudade.
3.
formar-se-á então um plano homogêneo,
de matéria densa, indetectável,
incessante fluir cuja meta é não haver nenhuma
tê-la ciranda extravagante, samba-canção de imagens,
universo canibal de palavras, ema insaciável,
arrota e defeca um supra alimento, um contrassenso digestivo.
4.
daqui, apenas eu -
admirado.
montar um retrato sonhado do poeta que gostaria de ser.
tecer minha própria colcha de retalhos como uma biografia de aquecer no inverno
naquelas noites vazias, frias, quando até o desespero toma café.
um mosaico estranho, uma planície de promontórios definidos, os poetas que admiro.
não o ponto firme da mão experimentada na lida têxtil, mas o rápido alinhavo de certas penas
encharcadas em tinta, embebidas nos poetas que tenho, bibelôs fantásticos,
uma colcha frouxa onde cada trapo - sempre único - tenha espaço para suas inspirações e expirações:
de vocábulos, coloquialismos, lirismos, pedras rombudas, verbetes laminosos, frases, espasmos,
etc etc etc etc
desenhar como premeditar uma coleção contraditória de olhares, união de inconciliantes
buscar, entre os grãos, aqueles que, ao roçar do pé, produzem não cócegas
mas reviravoltas no estômago, desilusões na pele e um certo desamparo
(daqueles de quem perdeu a esperança... ou o telefone celular).
2.
joão cabral:
mineralizar cada gota de lirismo, sem culpa ou ressentimento.
manoel de barros:
do eu petrificado brotar gerânios ou gavetas, nascedouro infinito de futilidades necessárias.
leminski:
reduzir cada verso na prensa da ironia, voltar os frutos às sementes.
rilke:
escravizar a vontade de agradar, morrer de fome lingüística dentro do dicionário.
drummond:
lentamente caminhar sobre o dia, sujo de pó e de saudade.
3.
formar-se-á então um plano homogêneo,
de matéria densa, indetectável,
incessante fluir cuja meta é não haver nenhuma
tê-la ciranda extravagante, samba-canção de imagens,
universo canibal de palavras, ema insaciável,
arrota e defeca um supra alimento, um contrassenso digestivo.
4.
daqui, apenas eu -
admirado.
19.5.09
18.5.09
influenza
essa indecisão, essa luta de
meus mudos glóbulos brancos
contra a degeneração viral
...
instável equilíbrio entre
o torso ereto e
o desmaio
...
chega de só sentado aqui
zumbizando
vou dormir
pra ver se não perco o futebol.
meus mudos glóbulos brancos
contra a degeneração viral
...
instável equilíbrio entre
o torso ereto e
o desmaio
...
chega de só sentado aqui
zumbizando
vou dormir
pra ver se não perco o futebol.
15.5.09
olho
olhar as coisas de lado
é por onde elas se revelam - inteiras.
olha-las de frente o parto é óbvio
de frente as coisas são rótulos
de lado os rótulos estão por colar
olhando se prega novo rótulo
que logo passa para a frente - das coisas.
a cola do olho rotula na retina. rotina.
é por onde elas se revelam - inteiras.
olha-las de frente o parto é óbvio
de frente as coisas são rótulos
de lado os rótulos estão por colar
olhando se prega novo rótulo
que logo passa para a frente - das coisas.
a cola do olho rotula na retina. rotina.
(para Mariana Anselmo)
alfabética
arrumando a caza:
z por s.
arrumando a casa:
s por r.
arrumando a cara:
a por e.
esfregando a cera:
põe c.
arrumando a cerca:
c por p. c por d.
pronto, tudo é perda.
z por s.
arrumando a casa:
s por r.
arrumando a cara:
a por e.
esfregando a cera:
põe c.
arrumando a cerca:
c por p. c por d.
pronto, tudo é perda.
14.5.09
varal
duas varas.
uma...
outra...
vara roupa roupa roupa roupa roupa roupa vara
vara verde rasgo nova preta velha ocre etc vara
chão ________________________________chão
desloca-se o ar por entre os poros/ausência de tecido
relimpam-se as cores. escorrem as dores.
percorrem os raios de sol as estendidas/distorcidas peças
evapora-se a água. sublimam-se as manchas.
varal é um fio suspenso cuja intenção é não ser notado
cuja única opção é ser moldura para retalhos suspensos
como folhas, como nuvens, como roupas num varal
varal é onde a luz solar e o caminho do ar se solidificam
amálgama cósmico e diário - pois é da roupa
um dia vi um quintal servindo de fundo a um varal
veio o vento:
vental.
uma...
outra...
vara roupa roupa roupa roupa roupa roupa vara
vara verde rasgo nova preta velha ocre etc vara
chão ________________________________chão
desloca-se o ar por entre os poros/ausência de tecido
relimpam-se as cores. escorrem as dores.
percorrem os raios de sol as estendidas/distorcidas peças
evapora-se a água. sublimam-se as manchas.
varal é um fio suspenso cuja intenção é não ser notado
cuja única opção é ser moldura para retalhos suspensos
como folhas, como nuvens, como roupas num varal
varal é onde a luz solar e o caminho do ar se solidificam
amálgama cósmico e diário - pois é da roupa
um dia vi um quintal servindo de fundo a um varal
veio o vento:
vental.
(para Herbert Vianna)
13.5.09
iniciação
queimar as pontes
destruir os elevadores
estilhaçar as lajes
arrombar as portas.
queimar as pontes, usar o barco.
destruir os elevadores, subir de escada.
estilhaçar as lajes, contemplar o sol.
arrombar as portas, pular a janela.
queimar o barco.
destruir a escada.
ruir o sol.
arrombar a janela.
assim, desobrigados:
sobram o
infinito
você
e
eu.
destruir os elevadores
estilhaçar as lajes
arrombar as portas.
queimar as pontes, usar o barco.
destruir os elevadores, subir de escada.
estilhaçar as lajes, contemplar o sol.
arrombar as portas, pular a janela.
queimar o barco.
destruir a escada.
ruir o sol.
arrombar a janela.
assim, desobrigados:
sobram o
infinito
você
e
eu.
8.5.09
ortopedista em disfunção
como estalam os crânios -
craquelados?
como estalam os crânios -
pulverizados?
como estalam?
a roda do dia roda:
roda roda roda
a roda do dia não sabe o crânio sob a face
a roda do dia não sabe a expressão pétrea
sob a
epidermáscara.
comestalam?
comer o crânio diário
os miolos lamber.
como estalam entre os dentes o crânio?
(que estranha moedura oferece à boca?)
esfarinha-se? estilhaça-se?
comoestalam seus hemisférios?
que geografia cerebral esconde o escalpo?
craquelados?
como estalam os crânios -
pulverizados?
como estalam?
a roda do dia roda:
roda roda roda
a roda do dia não sabe o crânio sob a face
a roda do dia não sabe a expressão pétrea
sob a
epidermáscara.
comestalam?
comer o crânio diário
os miolos lamber.
como estalam entre os dentes o crânio?
(que estranha moedura oferece à boca?)
esfarinha-se? estilhaça-se?
comoestalam seus hemisférios?
que geografia cerebral esconde o escalpo?
não sabe a senda cabeluda nada.
estrutura lunar, relicário pessoal.
como estala um crânio sob o peso do dia?
abrigo de tudo
o crânio escondido.
28.4.09
Infância
cai cai balão
queime tudo
queime não.
cai cai balão
cai aqui
ali não.
cai cai balão
lá na rua
lá no chão.
cai cai balão.
o quartel pegou fogo
dona chica admirou-se: vamos cirandar!
é mentira da barata.
cai balão, a canoa virou:
cai cai balão
cai cai sabão
cai cai anel
cai madrinha
cai sapo, lagoa, pé
cai jó, escravos,
cai índios,
cai.
queime tudo
queime não.
cai cai balão
cai aqui
ali não.
cai cai balão
lá na rua
lá no chão.
cai cai balão.
o quartel pegou fogo
dona chica admirou-se: vamos cirandar!
é mentira da barata.
cai balão, a canoa virou:
cai cai balão
cai cai sabão
cai cai anel
cai madrinha
cai sapo, lagoa, pé
cai jó, escravos,
cai índios,
cai.
27.4.09
23.4.09
16.4.09
insurreição
às vezes dói
(há o que purgar)
a dor decanta
às vezes corrói
escória escorre sua cor
pelo ventre
há quem não sinta
às vezes mói
denso, rombuda mó
esfarinha o ser, pó.
às vezes muda:
um broto brota fundo
raízes pululam
intumescidas umedecidas fincam-surgem
purga-se o asco o turvo o tosco
do corpo destilado
desabrocham-se pelos poros
florada da carne
a pele húmus perfeito.
transfigura-se em cores
toda dor.
flor.
(há o que purgar)
a dor decanta
às vezes corrói
escória escorre sua cor
pelo ventre
há quem não sinta
às vezes mói
denso, rombuda mó
esfarinha o ser, pó.
às vezes muda:
um broto brota fundo
raízes pululam
intumescidas umedecidas fincam-surgem
purga-se o asco o turvo o tosco
do corpo destilado
desabrocham-se pelos poros
florada da carne
a pele húmus perfeito.
transfigura-se em cores
toda dor.
flor.
6.4.09
arrepio
arrepio póstumo é memória cutânea.
mas, é além da memória (mero espectro)
vaga que retorna incólume.
ele é além, pois volta o mesmo
embora sem a presença do estímulo - este, já sombra.
eriçar das raízes
sempre o mesmo intenso
correr do esticar do pêlo
com cada inerte em seu lugar na corrente.
apêndices da pele em êxtase
a qualquer hora
paralisam todo o fluxo através do seu próprio
em êxtase filamentoso
o corpo oscila
entre o sono
e a sublevação.
mas, é além da memória (mero espectro)
vaga que retorna incólume.
ele é além, pois volta o mesmo
embora sem a presença do estímulo - este, já sombra.
eriçar das raízes
sempre o mesmo intenso
correr do esticar do pêlo
com cada inerte em seu lugar na corrente.
apêndices da pele em êxtase
a qualquer hora
paralisam todo o fluxo através do seu próprio
em êxtase filamentoso
o corpo oscila
entre o sono
e a sublevação.
3.4.09
ensaio de um dínamo com excitação separada para obtenção do nada
dançar
a
última
dança.
pisar o território transcendente
fruir o passo do tempo, infinito em suspensão.
mover-se fluido pela própria pele - nadador contido -
mover-se indefinido.
remover-se arrebatado
a última dança
o agora!
a
última
dança.
pisar o território transcendente
fruir o passo do tempo, infinito em suspensão.
mover-se fluido pela própria pele - nadador contido -
mover-se indefinido.
remover-se arrebatado
a última dança
o agora!
Do olhar
não vê quem olha o olho ali no rosto
não se sabe como a retina redonda enquadra
não se estampa o detalhe (ou o jogo) capturado
de onde a fotogenia do fungo ou do cimento?
por acaso há beleza num poste? num pepino?
saber do congelar indispensável à fotografia
ter, no olho, a agudeza do fio de navalha:
fatiar, do mundo, as cores certas, o gesto puro.
não se sabe como a retina redonda enquadra
não se estampa o detalhe (ou o jogo) capturado
no instante exato
no ar ou
no pensamento.
não se descobre por que caminhos o olho, a máquina e o dedo iluminam o corriqueiro.no ar ou
no pensamento.
de onde a fotogenia do fungo ou do cimento?
por acaso há beleza num poste? num pepino?
saber do congelar indispensável à fotografia
ter, no olho, a agudeza do fio de navalha:
fatiar, do mundo, as cores certas, o gesto puro.
(para Mairla Melo)
2.4.09
Biografia
aos 3 anos aprendi a aprender.
aos 7 tirava asa de cachorro.
aos 10 descobri o abismo entre meu pé direito e o esquerdo.
aos 13 percebi que minha orelha fora colocada de ponta-cabeça.
aos 15, as meninas.
aos 17 aprendi a apreender - também a dirigir.
aos 21 chorei.
aos 23 meu olho virou e vi diferente o que ainda era o mesmo.
aos 27 anos, esperar
aos 7 tirava asa de cachorro.
aos 10 descobri o abismo entre meu pé direito e o esquerdo.
aos 13 percebi que minha orelha fora colocada de ponta-cabeça.
aos 15, as meninas.
aos 17 aprendi a apreender - também a dirigir.
aos 21 chorei.
aos 23 meu olho virou e vi diferente o que ainda era o mesmo.
aos 27 anos, esperar
(to be continued...)
1.4.09
instante
evitar o temporão.
não ao descompassado fruto da impaciência,
às adstringências.
solapar todo passo incauto, cada anterioridade
elidir o caldo não fervido, a frase não cultivada
conter as explosões líricas
reprimir o evolar-se espontâneo.
não ao salto e ao zoom.
cautela:
passos controlados, respiração profunda
não há ato impensado, não mais o furo
cautela:
estica o braço e colhe a vida em plenitude
sem precocidades
só há o tempo certo
só há o descoberto.
(para Robisson Sete)
não ao descompassado fruto da impaciência,
às adstringências.
solapar todo passo incauto, cada anterioridade
elidir o caldo não fervido, a frase não cultivada
conter as explosões líricas
reprimir o evolar-se espontâneo.
não ao salto e ao zoom.
cautela:
passos controlados, respiração profunda
não há ato impensado, não mais o furo
cautela:
estica o braço e colhe a vida em plenitude
sem precocidades
só há o tempo certo
só há o descoberto.
(para Robisson Sete)
25.3.09
Sobre a coisa boa, um exemplo
Coisa boa é comer. Coisa boa é dormir. Coisa boa é ...
Mas não só.
Há aquela coisa boa que é só sua
sem universalismos ou testamentos.
EXEMPLO:
[Para mim banho frio, a qualquer hora, é bom.
Mas coisa boa mesmo é chegar em casa,
cansado, dores múltiplas e pontiagudas,
tirar a roupa, o chuveiro quente,
mas, quente daquele de torneira semi-aberta
(que ferve), apagar a luz e:
1. água nos ombros;
2. cabeça inclinada;
3. olhos fechados.
Isto dito então até não
mais ser banho.
Até ser escalda.
Até descolar a pele do osso.
Até a simples noção 'banho'
ser alheia ao corpo.
Para isso, não bastam
o ferver da água da corrente elétrica, nem a escuridão, nem o corpo sob:
Sacrificar 10 anos no árduo treinamento
é preciso. Sem a purificação pelo fogo
não o há.
Após, aprende-se a aglutinar os cinco sentidos
em um: tato.
Só então na pele o sacrifício
só então se extrai de cada gota-chama de/no escuro
o toque anestésico da água.]
Final do EXEMPLO.
Coisa boa é isso. E comer. E dormir. E ...
Mas não só.
Há aquela coisa boa que é só sua
sem universalismos ou testamentos.
EXEMPLO:
[Para mim banho frio, a qualquer hora, é bom.
Mas coisa boa mesmo é chegar em casa,
cansado, dores múltiplas e pontiagudas,
tirar a roupa, o chuveiro quente,
mas, quente daquele de torneira semi-aberta
(que ferve), apagar a luz e:
1. água nos ombros;
2. cabeça inclinada;
3. olhos fechados.
Isto dito então até não
mais ser banho.
Até ser escalda.
Até descolar a pele do osso.
Até a simples noção 'banho'
ser alheia ao corpo.
Para isso, não bastam
o ferver da água da corrente elétrica, nem a escuridão, nem o corpo sob:
Sacrificar 10 anos no árduo treinamento
é preciso. Sem a purificação pelo fogo
não o há.
Após, aprende-se a aglutinar os cinco sentidos
em um: tato.
Só então na pele o sacrifício
só então se extrai de cada gota-chama de/no escuro
o toque anestésico da água.]
Final do EXEMPLO.
Coisa boa é isso. E comer. E dormir. E ...
23.3.09
(sem título)
Henrique.
Quando penso em você
Meu coração faz ique.
Só me justifique
do porque deste meu chilique.
p.s.: poema da van para mim, que gosto muito - dela e dele.
Quando penso em você
Meu coração faz ique.
Só me justifique
do porque deste meu chilique.
p.s.: poema da van para mim, que gosto muito - dela e dele.
9.3.09
In memoriam
tuuuuuum
o estampido surdo
(do surdo e seu)
que - inexorável -
caminha
em direção ao
infinitum
.
.
.
tum
.
tum
.
tum
.
.
.
(para Carlão)
o estampido surdo
(do surdo e seu)
que - inexorável -
caminha
em direção ao
infinitum
.
.
.
tum
.
tum
.
tum
.
.
.
(para Carlão)
5.3.09
desverbarizar
na vida
tudo sempre vão
entremeios
para cima: nada
para baixo: nem escada
cada passo alçapão
cada abraço esbarrão
tudo sempre vão
entremeios
para cima: nada
para baixo: nem escada
cada passo alçapão
cada abraço esbarrão
(para Virgínia Gonzaga)
7.2.09
21.1.09
16.1.09
suave melancolia
O sol, em dias tristes,
põe-se como em um funeral:
vai...morosamente...
desmanchando-se em vermelhos vários
lágrimas de sangue
reverência à tristeza do mundo.
Uma tarde apenas basta
para uma alma abrir-se,
de repente,
dissolvendo-se no ambiente
triste de um domingo à tarde.
põe-se como em um funeral:
vai...morosamente...
desmanchando-se em vermelhos vários
lágrimas de sangue
reverência à tristeza do mundo.
Uma tarde apenas basta
para uma alma abrir-se,
de repente,
dissolvendo-se no ambiente
triste de um domingo à tarde.
antiquimeriana
De longe o som de festa inebria o espaço,
convidativo;
crianças em cirandas infinitas esvaem-se,
gigantescas;
frondosas árvores balançam e assombreiam,
humilíssimas...
surgem seus frutos.
Amigos e sonhos preenchem a casa
A feliz simplicidade felicidade.
convidativo;
crianças em cirandas infinitas esvaem-se,
gigantescas;
frondosas árvores balançam e assombreiam,
humilíssimas...
surgem seus frutos.
Amigos e sonhos preenchem a casa
A feliz simplicidade felicidade.
Arché
Quero desmistificar o pó
dele fazer brotar a idéia;
do chão criar o espaço
e nele pulsar a (anti) matéria.
Quero cristalizar o sonho
humanizar o inerte
plano que separa e define
à alma que diverte
moldar o mundo que incita
paladar, ouvido, cheiro, luz e pele...
Do gesto-traço ao sentimento
da intenção ao concreto
percorrer livre o árduo caminho
e dar forma ao eterno: arquiteto.
dele fazer brotar a idéia;
do chão criar o espaço
e nele pulsar a (anti) matéria.
Quero cristalizar o sonho
humanizar o inerte
plano que separa e define
à alma que diverte
moldar o mundo que incita
paladar, ouvido, cheiro, luz e pele...
Do gesto-traço ao sentimento
da intenção ao concreto
percorrer livre o árduo caminho
e dar forma ao eterno: arquiteto.
branco
o papel vazio
divaga sobre o infinito.
o poema escrito,
por reles que seja,
distrai o papel.
o infinito,
mosaico de possibilidades,
transborda...
o poema
acena...
sarcástisco.
divaga sobre o infinito.
o poema escrito,
por reles que seja,
distrai o papel.
o infinito,
mosaico de possibilidades,
transborda...
o poema
acena...
sarcástisco.
o poeta ao ser poeta
O poeta ao ser poeta
não dispõe de palavras -
delas se despe.
Ao fim do poetar
desfalece-se, nu.
Nu e vazio, pois se derramou:
vazio do poeta que a pouco
o arranhara por dentro...
Pleno no vazio do corpo
que ejaculou o poema.
não dispõe de palavras -
delas se despe.
Ao fim do poetar
desfalece-se, nu.
Nu e vazio, pois se derramou:
vazio do poeta que a pouco
o arranhara por dentro...
Pleno no vazio do corpo
que ejaculou o poema.
(sem título)
o poema átomo
se divide
e alcança o poema nada,
aquele nunca dito
nem escrito.
aquele esquecido na rua
o poema-pó
ame.
se divide
e alcança o poema nada,
aquele nunca dito
nem escrito.
aquele esquecido na rua
o poema-pó
ame.
Corpografia*
Meu corpo inscrito pela cidade.
Em minha pele pode ser lida
uma cartografia discreta:
daquela rua recebi certa curva nas costas
desta praça, um assombramento
da vitrine, o olhar cabisbaixo...
Nunca andei por estas esquinas;
dancei deveras.
No trem que nunca embarquei
me esfrego diariamente;
o primeiro pó que ventou a primeira casa
respiro.
Esta urbe vive,
nem memória
nem alma.
É meu corpo ali gemendo
sob a sova dos espaços
cruz inevitável
herança
de cada pedra que pisei.
Habito a mim mesmo minha terra mundo adentro.
(*publicado no livro "Experimentando a vida: cotidiano, esperanças e sensibilidades", edUFU)
Em minha pele pode ser lida
uma cartografia discreta:
daquela rua recebi certa curva nas costas
desta praça, um assombramento
da vitrine, o olhar cabisbaixo...
Nunca andei por estas esquinas;
dancei deveras.
No trem que nunca embarquei
me esfrego diariamente;
o primeiro pó que ventou a primeira casa
respiro.
Esta urbe vive,
nem memória
nem alma.
É meu corpo ali gemendo
sob a sova dos espaços
cruz inevitável
herança
de cada pedra que pisei.
Habito a mim mesmo minha terra mundo adentro.
(*publicado no livro "Experimentando a vida: cotidiano, esperanças e sensibilidades", edUFU)
pequeno dicionário de exercícios poéticos
verbete: 'raio'
s.m. 1. trinca fugaz/transfusão de luz; 2. estria no couro do olho/que morre logo, sem esperança; 3. objeto sem peso cuja queda/gera enorme estrondo.
verbete: 'canoa'
s.f. ferida constante que/ferindo/se apaga no rio.
s.m. 1. trinca fugaz/transfusão de luz; 2. estria no couro do olho/que morre logo, sem esperança; 3. objeto sem peso cuja queda/gera enorme estrondo.
verbete: 'canoa'
s.f. ferida constante que/ferindo/se apaga no rio.
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