30.6.09

pequeno dicionário de exercícios poéticos

verbete: OVNI - objeto voador não identificado

o ovo
o vôo
o óov

24.6.09

ensaio da poesia

- diga:
- de tudo ao meu amor serei atento...
- não, não, muito bossa.

(...)

- e assim: minha desgraça, ó cândida donzela...
-não!!
- o quê?

- muito fossa.


ensaio da rima

repitam juntos, 1 do lá si e ... :

- coração
- macacão

muito bem! agora outra vez, com entusiasmo:

- coração!
- macacão!

poema coletivo

escrever o poema coletivo
cada amigo pincelando uma palavra
uma metáfora, uma rima
escrever o poema incontido
cada amigo explorando um verso
um recôndito, um abrigo
escrever o poema polissêmico
cada amigo costurando um signo
um símbolo, um perigo
escrever o poema sem as mãos
cada amigo assoprando uma letra...

um poema-vendaval
me ergue do chão.

(para Manoel de Barros)

aposta

a postagem veio assim
como poema como
cinco letras duas palavras
e meio quilo de desejos...
de resto um líquido grosso
verde-musgo
escorrendo
pelo monitor.

daqui o teclado, duas mãos,
e a vontade de transcender
o LCD.

12.6.09

pílula do almoço

escorregam pela língua letras
papilas gustativas recitam
poemas gastronômicos.

blog

o quadrado branco que substitui a folha branca
aqui neste blog
é sempre límpido, não amassa,
a borracha impecável,
a letra impecável,
o branco impecável.

tanta pureza assim
só resta a canonização
do novo workspace do poeta!

8.6.09

pequeno dicionário de exercícios poéticos

verbete: s.m. concentração

olhar obsessivamente
o centro
o olhar centrado
a concêntrica ação
o ato foco certeiro
olhar o ser de algo
ser único olho
fixo no centro
sem titubeação.
obstinação.

pílula da noite

entra dia
sai dia
dentro a noite.

4.6.09

estalo

sabe aquela sensação que alguma coisa estalou?
sabe aquela sensação que alguma coisa fez clic?
sabe quando você morde e talvez uma pedra no feijão?
talvez um pequeno osso na galinhada, um pedaço de dente que se soltou?
sabe aquele insight de quando escrevendo qualquer coisa que não sai?
assim, aquele estampido surdo no ouvido interno, talvez um inseto contra o pára-brisas?
talvez uma trinca que nasce no concreto... ou na espelho?
sabe aquela impressão de que se falou demais, de que olhou demais?
talvez, sabe, só talvez, foi um centímetro a mais no corpo em crescimento, na barriga em crescimento...
talvez, bem talvez, uma letra, uma cor, uma peça de roupa, uma gota a mais;
talvez ainda uma cena a mais na película...
sabe isso?

é quando se percebe que o indizível opera em mínimos movimentos
silenciosas danças sísmicas, soma de ajustes interiores da alma.

a maturidade se forma por gotejamento incessante
gota a gota.
às vezes uma bolha no gargalho interrompe o fluxo...
o tempo se suspende
eternamente. então
a bolha se rompe
e uma onda deságua
rápida, surda, avassaladora:
um estalo, sabe?

cuidado!

[tomada alta tensão]

(choque)

toma da alta,
tá?
to.

toda alma, dama:
tenta são.

alto mato ten
alto mato são
altoma são
ma-al são
maten al
toda mala ten
toma da
alta ten
são toma

(o choque é fundamental à poesia)

família

1.
a casa cheia
uma ceia de risadas
se entrelaça cesto
onde se estoca
a família.

2.
a casa ceia
uma cheia de risadas
do seio da família
entre laços.

3.
os laços cheios
uma casa de família
onde risadas preenchem
os vazios os ocasos
da memória e da alegria.

pílula da gripe

a tosse, a dor na nuca:
uma grita
outra cutuca.

3.6.09

arqueologia

buscar a letra perdida entre os alfabetos aquela gasta pelo tempo de tanto ser usada desde sempre essência das coisas visíveis falada feita pedra pois reeditada em inúmeras línguas feita pó pelo peso dos mil sentidos lhe atribuídos letra decantada purificada pelo fogo dos séculos dos erros dos desvios transmudada em substância líquida quando finalmente encontra seu repouso movimento perpétuo pêndulo inexorável: o onipresente éter linguístico cujas cristalizações determinam o ser das palavras.

cova

enterrado na
terra
entre a terra
e a rocha
o oculto.

uma pá
outra pá
outra e outra

o oculto revela-se:
desenterrado
o oculto respira
sobrepostos
o céu o vazio a rocha
jazem na superfície
o monte e o oculto
patentes.

2.6.09

ósseas e flores

1
2
3
4
a quinta vértebra dói.
sua brancura não é paz,
paradoxalmente:
a dor, que é vermelha,
é alva e dura no osso.
estas orquídeas petrificadas imaculadas (as vértebras)
confundem meu cromatismo.
a dor, vermelha, dói branca em minhas costas;
- orquídeas ingratas,
meu bouquet estrutural abalado.

flores

rosas para minhas vértebras...flores?
não sei, mas
saberão elas reconhecer
o vermelho entre minhas dores?

ósseas...

a quinta vértebra sempre me dói diferente:
penso que, de todas, é a mais carente.

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