há poesia.
palavras: desnecessarias.
mas como elidi-las ante
o peso da linguagem?
como suprimi-las
quando assentam-se
dominantes
senhores de engenho diante
de vasto latinfúndio?
0.
palavras são como montes, suas sombras alcaçam
todas as paragens e o sol brilha inútil.
1.
desverbarizar as coisas
antes de tornarem
antes da codificação -
alcança-las rápido, ainda em etimologia -
esta dança embrião capturada
dá nascimento à poesia:
palavras são códigos para essências
e poemas, palavras voltadas a essências.
2.
odores irrompem da leitura de um poema -
há movimentação de essências no papel.
3.
falar de diminuições é preciso.
o mínimo existencial,
sem corporeidade ou ocupação,
eterno prenhe, apresenta
espessa densidade:
lugar poético pleno.
decadência ao ponto, vertiginosa queda.
escrevê-lo é decantação.
4.
palavras - imagens empobrecidas? -
operam por artifícios vítreos
abstraídas do peso do olhar.
5.
saber o poema mesmo diante
de sua incontinência inerente.
sabê-lo jorro
(induzir intumescências em seu cerne
produzi-lo faca cujo corte costure
em ausência de fenda -
nasce a linha do movimento de sutura).
lê-lo com a boca:
poema se dá na língua,
antes do olhar.
sabê-lo mesmo diante
de sua incontinente inerência.
6.
poema é
esculpir sem matéria
antes uma dedicação
do que um desempenho.
nasce o poema quando
uma intenção de agir
se perde em sonho ou
concretudes em fumaça.
poema é poesia com
corpo de palavras.
7.
captação - um banco de antenas
(ou uma formiga escala um poste ou simplesmente
um jovem e suas palavras-cruzadas)
um sopro as desalinha,
um gracejo linguístico:
1. idéias se coagulam
2. cai o maná semântico
3. poetas se alimentam
4. impurezas ficam pelo estômago, pelo intestino,
5. sai pelo reto o poema e
6. reto e límpido cai na folha branca.
8.
o poeta é antes uma prensa do que um poeta.
9.
há palavras. não há o poema.
poema mesmo é uma resistência
ao fluir manso da linguagem,
um acidente premeditado.
é redução contínua,
ato irresponsável.
10.
arremessar lufadas de ar contra
a inexorável chama do idioma:
a chama da convenção consome a língua (movimento suicida)
o poema sopra na vela seu teor de parafina. a chama se sustém.
11.
!:
da prensa de vento do poeta
escorre (agora) a palavra
amanhã.
24.8.09
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