no julgamento das palavras
quem bate o martelo
é o ponto-final.
não há espaço para reticências
ou travessões...
de testemunhas, e vírgulas,
estamos fartos e o júri !exclama:
- ?onde
sabe-se lá qual gramática ou retórica
esta dos pontos em que estamos
t o n t os
em
inquérito
(im)perfeito
9.9.10
simplicidade
existir:
como
resistir
ao escorrer
de si?
o suor diário nos enfim colocará em posição de salgar a terra - do pó ao pó; de pé à pá.
e no alfabeto da vida formularemos questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e ...
para a mesma resposta.
questões descabidas para a mesma justa resposta.
existir
como
coexistir
comunicar
como
unicar
Elevocêeu.
existir como
queimar-se
em
sacrifício
vivo.
como
resistir
ao escorrer
de si?
o suor diário nos enfim colocará em posição de salgar a terra - do pó ao pó; de pé à pá.
e no alfabeto da vida formularemos questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e questões e ...
para a mesma resposta.
questões descabidas para a mesma justa resposta.
existir
como
coexistir
comunicar
como
unicar
Elevocêeu.
existir como
queimar-se
em
sacrifício
vivo.
19.8.10
física
o corpo
se arrasta
sobre o
corpo do
planeta
se arrasta
sobre o
corpo do
vazio
se arrasta
sobre
?
o
vazio
se arrasta,
e é sobra -
insondável vaga
se arrasta
sobre o
corpo do
planeta
se arrasta
sobre o
corpo do
vazio
se arrasta
sobre
?
o
vazio
se arrasta,
e é sobra -
insondável vaga
26.7.10
metanóia
uma
brisa de vida
ergue-me
em pó
e a cada respiração
me desenlaço
- em pé -
da sepultura
este corpo denso
esvai-se
, ventando,
dia a dia
brisa de vida
ergue-me
em pó
e a cada respiração
me desenlaço
- em pé -
da sepultura
este corpo denso
esvai-se
, ventando,
dia a dia
3.7.10
descendência
a criação
possui
suave
cheiro Divino
e nós
(inebriados
com o êxtase
que somos)
entup'mos
n'ssas
n'darinas
possui
suave
cheiro Divino
e nós
(inebriados
com o êxtase
que somos)
entup'mos
n'ssas
n'darinas
14.6.10
a mangueira
... é a boca.
a água é
a língua.
e, boca-a-boca,
a cobra - d'água -
desencana-se de
tubo.
só-liquificando
placa
deitada ao
solo:
água-forte.
a água é
a língua.
e, boca-a-boca,
a cobra - d'água -
desencana-se de
tubo.
só-liquificando
placa
deitada ao
solo:
água-forte.
27.4.10
estopim
... o estopim de tudo
das dilacerações
das uniões
dos paradoxos
é o poema?
ou somos nós
arrastando-nos
na relva diária
correndo do leão
diário do medo diário
à luz do dia à luz da noite sob
nossas
sombras?
das dilacerações
das uniões
dos paradoxos
é o poema?
ou somos nós
arrastando-nos
na relva diária
correndo do leão
diário do medo diário
à luz do dia à luz da noite sob
nossas
sombras?
19.4.10
dia do índio
dia das mães
das crianças
da consciência negra
da mulher...
o calendário
como divã
sociológico.
das crianças
da consciência negra
da mulher...
o calendário
como divã
sociológico.
15.4.10
existência
não sei se me vi vindo feito vidro ou vão
sei apenas isto:
eu m'olhando através
como n'um passo
túnel adentro
ou
sobre ponte
andando lento
...
...
cruamente o
fato simples era
eu -
sendo-me
sei apenas isto:
eu m'olhando através
como n'um passo
túnel adentro
ou
sobre ponte
andando lento
...
...
cruamente o
fato simples era
eu -
sendo-me
31.3.10
receita de rotina
esquecer para trás
o feito
tornar-se afeito
aos simultâneos
e, aos sucedâneos,
joga-los para o
alto:
cairão sempre em sua cabeça em momento oportuno
o feito
tornar-se afeito
aos simultâneos
e, aos sucedâneos,
joga-los para o
alto:
cairão sempre em sua cabeça em momento oportuno
11.3.10
rafaella e aécio
e,
esperando-se ambos,
aconteceram de frutificarem
entre suas peles
a distância
entre suas peles seus pêlos
entrarão memórias e
espasmos de memórias
e,
na flutuação das horas,
germinará dura
a ausência - mês a mês
e,
ao nono mês,
a barriga - plena -
terá se ocupado
em ocupar
sempre
nos dois
cada reentrância
e,
ocupadas todas,
o abismo entre as peles
o abismo entre os pêlos
romperá a bolsa,
imensamente,
uma saudade:
... gêmea.
*poema desenvolvido a partir de uma frase de msn da rafaella: 'nove meses, vou parir uma Saudade'
esperando-se ambos,
aconteceram de frutificarem
entre suas peles
a distância
entre suas peles seus pêlos
entrarão memórias e
espasmos de memórias
e,
na flutuação das horas,
germinará dura
a ausência - mês a mês
e,
ao nono mês,
a barriga - plena -
terá se ocupado
em ocupar
sempre
nos dois
cada reentrância
e,
ocupadas todas,
o abismo entre as peles
o abismo entre os pêlos
romperá a bolsa,
imensamente,
uma saudade:
... gêmea.
*poema desenvolvido a partir de uma frase de msn da rafaella: 'nove meses, vou parir uma Saudade'
10.3.10
anatomia
é preciso desatar dos dedos
os dígitos os números as letras.
é preciso urgentemente dos
dedos desocupar-se
soltando-os a si mesmos apêndices dependurados dedos.
é preciso desatá-los. d e s a b o t o á - l o s.
até que mãos sejam apenas
a união dos dedos até que
os braços sejam união dos
dedos até que o corpo inteiro
seja um polegar ou, pelo menos,
um mínimo
apontando
para
cima:
ininterruptamente, Dedo.
os dígitos os números as letras.
é preciso urgentemente dos
dedos desocupar-se
soltando-os a si mesmos apêndices dependurados dedos.
é preciso desatá-los. d e s a b o t o á - l o s.
até que mãos sejam apenas
a união dos dedos até que
os braços sejam união dos
dedos até que o corpo inteiro
seja um polegar ou, pelo menos,
um mínimo
apontando
para
cima:
ininterruptamente, Dedo.
5.3.10
historieta 3*
e nas cidades deste reino subtropical, sempre houve apenas um motor. motor de cidade não é motor que mistura o cimento da laje do prédio. é preciso deixar tudo claro, pois, em primeiro lugar, é inerente ao motor uma fome constante: quanto mais rápido maior a cidade. é preciso, em seguida, mostrar que, embora motor, seu avanço produz muito atraso – e de que outro modo se enriquece da terra, uma vez que cada palmo conquistado não se dá sem largos passos erosivos?
e o motor, que é a ganância, faz das gentes duas. pouca gente tem muita cidade. e, esta cidade destes, é oferecida aos demais por aluguel: e, pelo aluguel, a cidade desses é mais um deserto que uma cidade. com isso, muita gente dessa tem nada e sobrevive – viver mesmo, ao pé-da-letra, é luxo. sobre o motor, que é a ganância, sabemos: construir a cidade para vendê-la, nunca habitá-la, é seu motor principal. seu mote imoral.
* texto feito 'sob encomenda' para integrar o roteiro do longa de carlos segundo: 'sozinho o herói muda', em elaboração.
confira o blog de carlos segundo: http://cassfilmes.blogspot.com/
4.3.10
3.3.10
dimensões
poemas curtos apenas
faço:
pois não me
resta o
tempo.
quanto aos grandes
passo:
pois tendo tal
tempo nem
poeta ou esteta
tento.
faço:
pois não me
resta o
tempo.
quanto aos grandes
passo:
pois tendo tal
tempo nem
poeta ou esteta
tento.
2.3.10
1.3.10
impulso
agora há pouco
um tema grandioso
tomou-me forte
- arrebatamento
quinze ou vinte versos depois
e a sensação que
dizê-lo todo
ser-me-ia
infinito
larguei
poesia é para temas
pequenantes
daqueles que todos já
escreveram
provavelmente agora há pouco,
alguém escreveu sobre nada
- e antes
deste ardor arder
ardeu em outro agora
a pouco
quantes?
um tema grandioso
tomou-me forte
- arrebatamento
quinze ou vinte versos depois
e a sensação que
dizê-lo todo
ser-me-ia
infinito
larguei
poesia é para temas
pequenantes
daqueles que todos já
escreveram
provavelmente agora há pouco,
alguém escreveu sobre nada
- e antes
deste ardor arder
ardeu em outro agora
a pouco
quantes?
música
... e como uma canção
tocada à distância
pela rede nos
toca
... e um sentimento
se desentoca. imagino
esta voz
tocada ao lado
como
enfiada estaca.
.som no peito
estocado
e o morto
pelo toc
vivo tornado.
tocada à distância
pela rede nos
toca
... e um sentimento
se desentoca. imagino
esta voz
tocada ao lado
como
enfiada estaca.
.som no peito
estocado
e o morto
pelo toc
vivo tornado.
25.2.10
fluxo
em um hipotético
poema-tubo
você entraria,
palavra
- sem saber da
extensão
de antemão
ou do atrito -
de um hipotético
tubo-palavra
sairia você,
poema,
aflito
poema-tubo
você entraria,
palavra
- sem saber da
extensão
de antemão
ou do atrito -
de um hipotético
tubo-palavra
sairia você,
poema,
aflito
23.2.10
poema parasita 3 - ou contagem regressiva para o amor
se você vem às quatro da tarde,
desde às três eu começarei a ser feliz
e nós dois seremos cedo
um só amor.
* os versos em vermelho são do livro 'o pequeno príncipe', de antoine de saint-exupéry
desde às três eu começarei a ser feliz
e nós dois seremos cedo
um só amor.
* os versos em vermelho são do livro 'o pequeno príncipe', de antoine de saint-exupéry
historieta 2
...e quando nasci, ou ainda, enquanto eu nascia, muita coisa se desenvolvia ao meu redor: a respiração de minha mãe, de meu pai, do médico, do enfermeiro, o sistema financeiro, a década perdida. talvez fosse uma médica, uma enfermeira e minhas avós ali, desenvolvendo suas respirações, suas carreiras, seus amores - me lembro pouco disso desse evento de meu nascimento. o certo é que, nascendo, também eu agora me desenvolvia, extra-útero. após o alívio de meu nascimento para minha mãe, minha médica(o), minhas avós, meu pai e outros; após mesmo o alívio de minha mãe - pois paria - passei a ser em desenvolvimento explícito. claro que antes, no ventre, era desenvolvido em uma série de duplicações de carne. mas desenvolver-se-ia para os outros a partir de então, assim, de fora de minha mãe. e a década perdida começava a perder-se equanto eu ganhava a vida, palavras e dentes. após, ganhando ainda palavra a palavra, perdia dente a dente. perdia e ganhava. com o tempo, as cadeiras, os frangos, as músicas, as dores e revistas passavam a ser eu. desenvolvia-me então nas coisas, nas leituras, nas tabuadas e fugas. experimentava a mim mesmo nas coisas à medida que me desenvolvia 'com n'elas. duas árvores, três sonhos e sapatos sou. a vida? partitura em movimento, escritura em transferência. escapo, entre posses e passos, para a eternidade.
22.2.10
cinema
ter a mesma idéia
de sempre
até a transfiguração
(figurar as palavras que desfiguraram as imagens
isto faz o cinema)
m-o-n-t-a-g-e-m
a cena estanque
na cabeça
de fora
a realidade
fora do
enquadramento
dentro
a realidade
muda
e a ilusão
fala
de sempre
até a transfiguração
(figurar as palavras que desfiguraram as imagens
isto faz o cinema)
m-o-n-t-a-g-e-m
a cena estanque
na cabeça
de fora
a realidade
fora do
enquadramento
dentro
a realidade
muda
e a ilusão
fala
diálogos 3
- dá-me pouso, poeta!
pois sou verso solto
com aresta, duro
de letra incauta grossa
dá-me pouso, poeta.
- dá-me repouso, poema!
pois sou homem tolo
sem conversa, pulo
sobre a letra gasta, exposta
e dou-lhe um soco de poeta.
pois sou verso solto
com aresta, duro
de letra incauta grossa
dá-me pouso, poeta.
- dá-me repouso, poema!
pois sou homem tolo
sem conversa, pulo
sobre a letra gasta, exposta
e dou-lhe um soco de poeta.
18.2.10
historieta
... e em um dado quartel havia soldados, como em qualquer um. havia porém, neste, um grupo distinto do grupo maior de soldados que se acha sempre em quartéis. nem por isso este quartel deixava de ser um apenas quartel. o porém se refere à grande habilidade de cada soldado deste sub-grupo em correr. tudo era feito na extrema correria neste quartel por estes soldados - e veja que neste quartel só se corria o comum de correr mesmo de quartéis. de nome corrente era cada soldado assim que corria. mais do que os demais, um corrente sempre era presente em tudo e em quando. mesmo em atraso os correntes corriam mais e estavam antes que os demais. em exercícios de correr aquela correria era natural a eles, mas esforço para os outros que andavam predominantemente. de correr tanto aquele quartel, que não era por isso destaque dentre os quartéis, ficava sempre em movimento. não o movimento habitual de quartel que vigia constante. a circulação de correntes tornava a vida do quartel fluida como em um rio. havia, por isso, soldados corredores nos outros quartéis. neste não, pois correntes. no final do dia os correntes paravam. da primeira vez do primeiro corrente no primeiro dia parar houve espanto. com o segundo dia com o segundo corrente e o terceiro e o quarto houve ainda espanto, embora cada vez menos. cada vez menos até do espanto ficar apenas um leve espasmo dentro dos demais soldados. como se o quartel soluçasse uma vez por dia. esta era a pausa diária e, deste modo, os correntes - mais do que correr de lá para cá - sinalizavam que o repouso sempre era o grande objetivo.
12.2.10
semântica
... e o sentido das
coisas distribuídas
pelo chão pelo tampo da mesa pelos veios da
memória pelo tempo -
minha casa
extrapola qualquer
sentido
na medida
em que cada coisa
distribuída é
deveras sentida -
na porção que
me sinto
em cada
coisa
existo minha casa
existo eu:
casa de veraneio
neste condomínio
coisas distribuídas
pelo chão pelo tampo da mesa pelos veios da
memória pelo tempo -
minha casa
extrapola qualquer
sentido
na medida
em que cada coisa
distribuída é
deveras sentida -
na porção que
me sinto
em cada
coisa
existo minha casa
existo eu:
casa de veraneio
neste condomínio
11.2.10
um poema preguiçoso
como todos os outros
poemas:
preguiçosos
como todos os outros
poemas
pois são
preguiçosamente
feitos
(todo poema é elevação da preguiça à trabalho árduo)
e o poeta,
como
sublimação:
do esforço
da palavra útil
pela sombra
da calada preguiça
poemas:
preguiçosos
como todos os outros
poemas
pois são
preguiçosamente
feitos
(todo poema é elevação da preguiça à trabalho árduo)
e o poeta,
como
sublimação:
do esforço
da palavra útil
pela sombra
da calada preguiça
9.2.10
biblioteca
o pássaro na marquise
pousa
sobre o silêncio
(abaixo o salão)
na profusão de idéias
empapeladas
(!ave textos!)
(re) pousa
abarca com a vista
(não com a memória)
os recônditos as idéias as dissimulações
em suas
páginas
a ave paira no ar
- seu pouso agora é o vento –
em meio à
r e v o a d a
letras cabaleiam:
frenesi-linguístico
os sons (mudos)
as casas (de papel)
pousa
sobre o silêncio
(abaixo o salão)
na profusão de idéias
empapeladas
(!ave textos!)
(re) pousa
abarca com a vista
(não com a memória)
os recônditos as idéias as dissimulações
em suas
páginas
a ave paira no ar
- seu pouso agora é o vento –
em meio à
r e v o a d a
letras cabaleiam:
frenesi-linguístico
os sons (mudos)
as casas (de papel)
8.2.10
poema redondo
e escrever e escrever e
escrever e escrever até virar
linha o que
antes letra
era um
poema enovela-se
infindo caminho
de si
e
escrever e escrever até virar
linha o que
antes letra
era um
poema enovela-se
infindo caminho
de si
e
escombro
é o que desaba
do verso dencontro
com outro
de ombro
é o que deságua
do leito do
escambo
do verbo
do verso dencontro
com outro
de ombro
é o que deságua
do leito do
escambo
do verbo
conversão
uma letra pura
pousa incauta
em minha ferida:
suave como dizer
escorre ou
esfuma
ela embebe-se
de minha espuma
e logo sou
são.
pousa incauta
em minha ferida:
suave como dizer
escorre ou
esfuma
ela embebe-se
de minha espuma
e logo sou
são.
3.2.10
... e olhando o fotógrafo passar
só nos resta o
rastro
(como se dali nunca fosse - como se antes uma mosca sobre a água, uma estrela sobre o tempo)
do seu olhar
* este poema está em construção - caso tenha contribuições de verso contribua e seja também autor do mesmo. poema coletivo. A idéia deste poema é simples:
são 3 versos - só nos resta o/rastro/do seu olhar
mas que só se completam com o título, então seria assim:
... e olhando o fotógrafo passar
só nos resta o
rastro
do seu olhar
a inserção de um verso - um enxerto - é uma escolha para chacoalhar os versos acima, que são bastante previsíveis: através da abertura de parênteses se descreve o caminhar de um fotógrafo em ação, pela cidade, naquele 'transe típico' de quem está observando enquadramentos ou configurações visuais inusitadas ou harmoniosas... o verso é o seguinte:
(como se dali nunca fosse - como se antes uma mosca sobre a água, uma estrela sobre o tempo)
E é isso... proponho um poema em conjunto. Já está dissecado sobre a mesa. Agora que viva o Frankenstein.
rastro
(como se dali nunca fosse - como se antes uma mosca sobre a água, uma estrela sobre o tempo)
do seu olhar
* este poema está em construção - caso tenha contribuições de verso contribua e seja também autor do mesmo. poema coletivo. A idéia deste poema é simples:
são 3 versos - só nos resta o/rastro/do seu olhar
mas que só se completam com o título, então seria assim:
... e olhando o fotógrafo passar
só nos resta o
rastro
do seu olhar
a inserção de um verso - um enxerto - é uma escolha para chacoalhar os versos acima, que são bastante previsíveis: através da abertura de parênteses se descreve o caminhar de um fotógrafo em ação, pela cidade, naquele 'transe típico' de quem está observando enquadramentos ou configurações visuais inusitadas ou harmoniosas... o verso é o seguinte:
(como se dali nunca fosse - como se antes uma mosca sobre a água, uma estrela sobre o tempo)
E é isso... proponho um poema em conjunto. Já está dissecado sobre a mesa. Agora que viva o Frankenstein.
1.2.10
hoje é domingo e acho que vai chover
cachorro fazendo
graça - é o verso
molhado
de chuva -
que espirra lama
é o olho que passa
e não pasma
o verso
disfarça e
pergunta:
será?
(aos Paralamas do Sucesso)
graça - é o verso
molhado
de chuva -
que espirra lama
é o olho que passa
e não pasma
o verso
disfarça e
pergunta:
será?
(aos Paralamas do Sucesso)
27.1.10
poema sobre o vento
ao vento
escrever
este poema
ao vento
ofereço
este poema
ao vento
arremesso
este poema
no vento
este poema
escrevo
como se
eu no poema
(o poema em mim)
ventássemos
um céu pessoal
escrever
este poema
ao vento
ofereço
este poema
ao vento
arremesso
este poema
no vento
este poema
escrevo
como se
eu no poema
(o poema em mim)
ventássemos
um céu pessoal
26.1.10
paulo
e à sombra de meu avô
caminho uma vida
observo meus
semelhantes
e sinto
estranhamento
a família -
suas lembranças
suas pegadas em cada um
e
sua ausência
é
seu maior discurso
(para minha mãe)
caminho uma vida
observo meus
semelhantes
e sinto
estranhamento
a família -
suas lembranças
suas pegadas em cada um
e
sua ausência
é
seu maior discurso
(para minha mãe)
25.1.10
sobre meu lirismo
escrever sobre mim
não m'é possível -
gosto de olhar o
corpo do objeto
até ser permitido
tocá-lo para
obter a resposta,
sempre inesperada -
escrever é revelação
da substância na palavra (como em 'substância' vislumbro o 'súbito')
escrever um poema é
esculpir com o sopro
e, de súbito, o
toque:
poetrifico-me
não m'é possível -
gosto de olhar o
corpo do objeto
até ser permitido
tocá-lo para
obter a resposta,
sempre inesperada -
escrever é revelação
da substância na palavra (como em 'substância' vislumbro o 'súbito')
escrever um poema é
esculpir com o sopro
e, de súbito, o
toque:
poetrifico-me
23.1.10
purificação - ou tipologia de poema
TEMA -
escrever um
pequeno poema
que alcance
o vigor de um
surto etimológico
VARIAÇÃO 1 -
em que a
palavra da
frente
se funda com
a vizinha que
se funda com
avizinhaquesefundacom
VARIAÇÃO 2 -
escrever que
os sentidos se
enlacem como
numa taça de
vinho como
amálgama semântico
PREPARAÇÃO À CONCLUSÃO -
derreter um
pequeno poema
em busca da
unidade pelo fogo
CONCLUSÃO -
disto é a
poesia:
derreter o
idioma
em busca da
palavra escória
escrever um
pequeno poema
que alcance
o vigor de um
surto etimológico
VARIAÇÃO 1 -
em que a
palavra da
frente
se funda com
a vizinha que
se funda com
avizinhaquesefundacom
VARIAÇÃO 2 -
escrever que
os sentidos se
enlacem como
numa taça de
vinho como
amálgama semântico
PREPARAÇÃO À CONCLUSÃO -
derreter um
pequeno poema
em busca da
unidade pelo fogo
CONCLUSÃO -
disto é a
poesia:
derreter o
idioma
em busca da
palavra escória
20.1.10
elevação da palavra
remover a densidade
é aparar
é exaurir
o
sobressalente
reduzir é tornar-se
radioso - entre o vazio e o buraco negro temos o hidrogênio.
remover a densidade
é apurar a medida
é torna-la
residual
remover o que
não se apegou
à mucosa da
boca nem
se abraçou
à ventosa
da língua
é aparar
é exaurir
o
sobressalente
reduzir é tornar-se
radioso - entre o vazio e o buraco negro temos o hidrogênio.
remover a densidade
é apurar a medida
é torna-la
residual
remover o que
não se apegou
à mucosa da
boca nem
se abraçou
à ventosa
da língua
e...
ando escrevendo de qualquer jeito de supetão
de assalto pego no teclado e disparo um poema
de susto de 100 metros rasos de saque rápido
a fluidez inerente ao ato
irresponsável tem sido
minha única rebeldia
(a fluidez é um sumo viscoso
um vício sorvido na ponta
da tecla)
escrever de esbarro:
vaso cerâmico é o
poema
o poeta
o oleiro
(assopra-se o ânimo):
ex-barro
de assalto pego no teclado e disparo um poema
de susto de 100 metros rasos de saque rápido
a fluidez inerente ao ato
irresponsável tem sido
minha única rebeldia
(a fluidez é um sumo viscoso
um vício sorvido na ponta
da tecla)
escrever de esbarro:
vaso cerâmico é o
poema
o poeta
o oleiro
(assopra-se o ânimo):
ex-barro
18.1.10
assopro
repetir é sim um dom do estilo
e
manoel de barros
é um padrão
e
sua poesia a beleza
no padrão
(como num coral num jabuti num tecido numa teia - na respiração)
um poema é fugido
do cinzel da
correção
quando se torna
atmosférico
quando é estalo
na alma
poesia é pneumática
e o poeta
o compressor
repetir sempre
pois
em poesia, sucesso
vem do sempre:
elevar-se do
papel
pela insistência,
ser-se vento
e
manoel de barros
é um padrão
e
sua poesia a beleza
no padrão
(como num coral num jabuti num tecido numa teia - na respiração)
um poema é fugido
do cinzel da
correção
quando se torna
atmosférico
quando é estalo
na alma
poesia é pneumática
e o poeta
o compressor
repetir sempre
pois
em poesia, sucesso
vem do sempre:
elevar-se do
papel
pela insistência,
ser-se vento
12.1.10
11.1.10
poeta profissional
é escrever em horário comercial
5 x 8 de segunda a sexta
e, pro descanso,
futebol
feriado é dia santo:
silêncio do
poema
5 x 8 de segunda a sexta
e, pro descanso,
futebol
feriado é dia santo:
silêncio do
poema
7.1.10
sonho
sonhei
com
o poema
cada palavra
mel
deslizava pela
cama
sonhei
e
cada palavra
cristal
rutilava pela
cama
sonhei céu
com
o verso o verso meu
sonhei-o
pleno
cada palavra
calma
suspirava pela
cama
sonhei manso
sonhei
o poema
todo
cada palavra
poema
extravasava
cama
e
da flama do poema
só restou
- acordado -
o papel
amassado ao pé da
cama
com
o poema
cada palavra
mel
deslizava pela
cama
sonhei
e
cada palavra
cristal
rutilava pela
cama
sonhei céu
com
o verso o verso meu
sonhei-o
pleno
cada palavra
calma
suspirava pela
cama
sonhei manso
sonhei
o poema
todo
cada palavra
poema
extravasava
cama
e
da flama do poema
só restou
- acordado -
o papel
amassado ao pé da
cama
6.1.10
ventoinha
espera
a
chuva pára brisa quente chega perto rosto fosco lusco fusca pisco pisca pára!
na
estrada
o hífen reduz a palavra
a
chuva pára brisa quente chega perto rosto fosco lusco fusca pisco pisca pára!
na
estrada
o hífen reduz a palavra
das luzes
1 vaga-lume
piscou
na sala
a TV
enciumada
brilhou
1000 vaga-lumes
a TV
na sala
de ciúmes
o bicho
voou
piscou
na sala
a TV
enciumada
brilhou
1000 vaga-lumes
a TV
na sala
de ciúmes
o bicho
voou
4.1.10
paisagem 2
a paisagem urbana
se esparrama dura
(e)
o sentimento, na praça
(é)
um policial à paisana.
se esparrama dura
(e)
o sentimento, na praça
(é)
um policial à paisana.
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