23.2.10

historieta 2

...e quando nasci, ou ainda, enquanto eu nascia, muita coisa se desenvolvia ao meu redor: a respiração de minha mãe, de meu pai, do médico, do enfermeiro, o sistema financeiro, a década perdida. talvez fosse uma médica, uma enfermeira e minhas avós ali, desenvolvendo suas respirações, suas carreiras, seus amores - me lembro pouco disso desse evento de meu nascimento. o certo é que, nascendo, também eu agora me desenvolvia, extra-útero. após o alívio de meu nascimento para minha mãe, minha médica(o), minhas avós, meu pai e outros; após mesmo o alívio de minha mãe - pois paria - passei a ser em desenvolvimento explícito. claro que antes, no ventre, era desenvolvido em uma série de duplicações de carne. mas desenvolver-se-ia para os outros a partir de então, assim, de fora de minha mãe. e a década perdida começava a perder-se equanto eu ganhava a vida, palavras  e dentes. após, ganhando ainda palavra a palavra, perdia dente a dente. perdia e ganhava. com o tempo, as cadeiras, os frangos, as músicas, as dores e revistas passavam a ser eu. desenvolvia-me então nas coisas, nas leituras, nas tabuadas e fugas. experimentava a mim mesmo nas coisas à medida que me desenvolvia 'com n'elas. duas árvores, três sonhos e sapatos sou. a vida? partitura em movimento, escritura em transferência. escapo, entre posses e passos, para a eternidade.

Um comentário:

Raquel Beatriz disse...

belo texto ...


dificil amarrar as palavras assim... lado a lado!

ps: semântica ...
existimos nós neste universo particular...

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