ao vento
escrever
este poema
ao vento
ofereço
este poema
ao vento
arremesso
este poema
no vento
este poema
escrevo
como se
eu no poema
(o poema em mim)
ventássemos
um céu pessoal
27.1.10
26.1.10
paulo
e à sombra de meu avô
caminho uma vida
observo meus
semelhantes
e sinto
estranhamento
a família -
suas lembranças
suas pegadas em cada um
e
sua ausência
é
seu maior discurso
(para minha mãe)
caminho uma vida
observo meus
semelhantes
e sinto
estranhamento
a família -
suas lembranças
suas pegadas em cada um
e
sua ausência
é
seu maior discurso
(para minha mãe)
25.1.10
sobre meu lirismo
escrever sobre mim
não m'é possível -
gosto de olhar o
corpo do objeto
até ser permitido
tocá-lo para
obter a resposta,
sempre inesperada -
escrever é revelação
da substância na palavra (como em 'substância' vislumbro o 'súbito')
escrever um poema é
esculpir com o sopro
e, de súbito, o
toque:
poetrifico-me
não m'é possível -
gosto de olhar o
corpo do objeto
até ser permitido
tocá-lo para
obter a resposta,
sempre inesperada -
escrever é revelação
da substância na palavra (como em 'substância' vislumbro o 'súbito')
escrever um poema é
esculpir com o sopro
e, de súbito, o
toque:
poetrifico-me
23.1.10
purificação - ou tipologia de poema
TEMA -
escrever um
pequeno poema
que alcance
o vigor de um
surto etimológico
VARIAÇÃO 1 -
em que a
palavra da
frente
se funda com
a vizinha que
se funda com
avizinhaquesefundacom
VARIAÇÃO 2 -
escrever que
os sentidos se
enlacem como
numa taça de
vinho como
amálgama semântico
PREPARAÇÃO À CONCLUSÃO -
derreter um
pequeno poema
em busca da
unidade pelo fogo
CONCLUSÃO -
disto é a
poesia:
derreter o
idioma
em busca da
palavra escória
escrever um
pequeno poema
que alcance
o vigor de um
surto etimológico
VARIAÇÃO 1 -
em que a
palavra da
frente
se funda com
a vizinha que
se funda com
avizinhaquesefundacom
VARIAÇÃO 2 -
escrever que
os sentidos se
enlacem como
numa taça de
vinho como
amálgama semântico
PREPARAÇÃO À CONCLUSÃO -
derreter um
pequeno poema
em busca da
unidade pelo fogo
CONCLUSÃO -
disto é a
poesia:
derreter o
idioma
em busca da
palavra escória
20.1.10
elevação da palavra
remover a densidade
é aparar
é exaurir
o
sobressalente
reduzir é tornar-se
radioso - entre o vazio e o buraco negro temos o hidrogênio.
remover a densidade
é apurar a medida
é torna-la
residual
remover o que
não se apegou
à mucosa da
boca nem
se abraçou
à ventosa
da língua
é aparar
é exaurir
o
sobressalente
reduzir é tornar-se
radioso - entre o vazio e o buraco negro temos o hidrogênio.
remover a densidade
é apurar a medida
é torna-la
residual
remover o que
não se apegou
à mucosa da
boca nem
se abraçou
à ventosa
da língua
e...
ando escrevendo de qualquer jeito de supetão
de assalto pego no teclado e disparo um poema
de susto de 100 metros rasos de saque rápido
a fluidez inerente ao ato
irresponsável tem sido
minha única rebeldia
(a fluidez é um sumo viscoso
um vício sorvido na ponta
da tecla)
escrever de esbarro:
vaso cerâmico é o
poema
o poeta
o oleiro
(assopra-se o ânimo):
ex-barro
de assalto pego no teclado e disparo um poema
de susto de 100 metros rasos de saque rápido
a fluidez inerente ao ato
irresponsável tem sido
minha única rebeldia
(a fluidez é um sumo viscoso
um vício sorvido na ponta
da tecla)
escrever de esbarro:
vaso cerâmico é o
poema
o poeta
o oleiro
(assopra-se o ânimo):
ex-barro
18.1.10
assopro
repetir é sim um dom do estilo
e
manoel de barros
é um padrão
e
sua poesia a beleza
no padrão
(como num coral num jabuti num tecido numa teia - na respiração)
um poema é fugido
do cinzel da
correção
quando se torna
atmosférico
quando é estalo
na alma
poesia é pneumática
e o poeta
o compressor
repetir sempre
pois
em poesia, sucesso
vem do sempre:
elevar-se do
papel
pela insistência,
ser-se vento
e
manoel de barros
é um padrão
e
sua poesia a beleza
no padrão
(como num coral num jabuti num tecido numa teia - na respiração)
um poema é fugido
do cinzel da
correção
quando se torna
atmosférico
quando é estalo
na alma
poesia é pneumática
e o poeta
o compressor
repetir sempre
pois
em poesia, sucesso
vem do sempre:
elevar-se do
papel
pela insistência,
ser-se vento
12.1.10
11.1.10
poeta profissional
é escrever em horário comercial
5 x 8 de segunda a sexta
e, pro descanso,
futebol
feriado é dia santo:
silêncio do
poema
5 x 8 de segunda a sexta
e, pro descanso,
futebol
feriado é dia santo:
silêncio do
poema
7.1.10
sonho
sonhei
com
o poema
cada palavra
mel
deslizava pela
cama
sonhei
e
cada palavra
cristal
rutilava pela
cama
sonhei céu
com
o verso o verso meu
sonhei-o
pleno
cada palavra
calma
suspirava pela
cama
sonhei manso
sonhei
o poema
todo
cada palavra
poema
extravasava
cama
e
da flama do poema
só restou
- acordado -
o papel
amassado ao pé da
cama
com
o poema
cada palavra
mel
deslizava pela
cama
sonhei
e
cada palavra
cristal
rutilava pela
cama
sonhei céu
com
o verso o verso meu
sonhei-o
pleno
cada palavra
calma
suspirava pela
cama
sonhei manso
sonhei
o poema
todo
cada palavra
poema
extravasava
cama
e
da flama do poema
só restou
- acordado -
o papel
amassado ao pé da
cama
6.1.10
ventoinha
espera
a
chuva pára brisa quente chega perto rosto fosco lusco fusca pisco pisca pára!
na
estrada
o hífen reduz a palavra
a
chuva pára brisa quente chega perto rosto fosco lusco fusca pisco pisca pára!
na
estrada
o hífen reduz a palavra
das luzes
1 vaga-lume
piscou
na sala
a TV
enciumada
brilhou
1000 vaga-lumes
a TV
na sala
de ciúmes
o bicho
voou
piscou
na sala
a TV
enciumada
brilhou
1000 vaga-lumes
a TV
na sala
de ciúmes
o bicho
voou
4.1.10
paisagem 2
a paisagem urbana
se esparrama dura
(e)
o sentimento, na praça
(é)
um policial à paisana.
se esparrama dura
(e)
o sentimento, na praça
(é)
um policial à paisana.
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